Alunos da rede municipal apresentam versão afro de Dom Quixote 

16 de dez de 2016 - Jornalismo

Cerca de 150 alunos da rede municipal de ensino participaram, nesta sexta-feira (16), da 3ª Mostra Criativa Salvador de Arte, Educação e Cultura Negra, ação promovida pelas secretarias da Reparação, Educação e a Fundação Gregório de Mattos. O evento busca dar visibilidade aos trabalhos elaborados com elementos da cultura negra e desenvolvidos em todas as escolas municipais de Salvador. A mostra contou com a participação das secretárias Ivete Sacramento (Semur) e Joelice Braga (Smed), do presidente da FGM, Fernando Guerreiro, entidades voltadas para a cultura africana, conselhos municipais de Educação e Cultura, diretores de escolas e convidados.

Na apresentação puderam ser vistos elementos de teatro, canto e dança misturados em uma adaptação moderna do clássico Dom Quixote de La Mancha, do espanhol Miguel de Cervantes, rebatizado de Dom Chicote Mula Manca. Em vez dos campos e da realidade espanhola, o espetáculo acontece em um ambiente mais próximo à cultura africana, nos âmbitos artísticos e religiosos.

A peça teve início com as crianças reunidas em formato de coral, entoando cânticos originários da capoeira, cerimoniais e também da música popular, sempre incorporando a temática da inserção do negro em situações similares às encontradas na sociedade atual. Na versão, porém, Dom Chicote – e seu companheiro Zé Chupança (em alusão a Sancho Pança) – não encontra os moinhos de vento como inimigos, como no texto original do século XVII, mas o preconceito e o julgamento de outros seres humanos. O show conta ainda com apresentações de dança e música instrumental, com inserções de elementos como capoeira e maculelê, entre outros.

“É através da arte que conseguimos avançar em questões importantes como essa. O município de Salvador já é pioneiro na inserção da cultura afro nas escolas. Portanto, a mostra é mais um elemento para reforçar esse trabalho e a importância de conhecer esse tema tão rico. Dessa forma os alunos absorvem a informação e são formados com outra mentalidade tornando essa nova relação mais consciente”, celebrou Fernando Guerreiro.

16_12_2016_mostra-de-arte-e-cultura-negra_semur_foto_matheus-buranelli_agecom-41

Fortalecendo a cultura –
 A direção artística do espetáculo ficou a cargo dos professores Lázaro Machado e Luciana Souza, e contou com a colaboração de quatro professores de teatro e dois de música. De acordo com o diretor, a importância da mostra vai além da arte, sendo essencial para a formação educacional e para a vivência dos estudantes. “Esta ação é fundamental em uma cidade como Salvador. O trabalho é uma costura entre dança, música e coral e percorre todo o sonho quixotesco através de um olhar voltado para a temática negra, vivida em um navio negreiro, transportando os escravos da África para o Brasil, o drama e os sonhos perdidos no mar”, explicou.

Na peça, o erudito é mostrado com uma visão popular. Segundo Lázaro Machado, por ser uma obra universal, Dom Quixote pode ser retratado por qualquer etnia e para todos os públicos. “Buscamos, com isso, fortalecer a autoestima das crianças e ajudar a vencer o preconceito e a intolerância contra a cultura e a religião de origem africana. Afinal, o mesmo atabaque que toca na capoeira é o mesmo do candomblé, as músicas são as mesmas e nada é dissociado, necessitando do mesmo espaço oferecido à cultura ocidental”..

Nova legislação – Para a titular da Semur, a mostra é o ponto alto do trabalho da Prefeitura relacionadas ao planejamento, execução e controle das atividades relacionadas às leis 10.639 e 11.645, que determinam o estudo da cultura e história da África e afro-brasileira e das relações étnico-raciais. “A mostra surgiu como uma forma de mostrar à comunidade o resultado dessas ações executadas nas salas de aula na Rede Municipal”, reforçou.

A mostra é gerida por um grupo de trabalho formado pelas secretarias municipais dividindo tarefas no que se refere às políticas públicas para negros, à educação, arte e cultura. As primeiras edições foram realizadas no Teatro Castro Alves, sempre incluindo novas ações e qualificando ainda mais os participantes.

16_12_2016_mostra-de-arte-e-cultura-negra_semur_foto_matheus-buranelli_agecom-16