Guilherme Bellintani

23 de fev de 2015 - Jornalismo

Recém-chegado à Secretaria de Educação, Guilherme Bellintani traz consigo o reconhecimento da gestão que fez na Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador. O empresário assumiu a pasta da Educação em 1º de janeiro e encontrou uma máquina grande: 7 mil terceirizados, 7 mil professores, 140 mil alunos e 428 escolas. Os projetos já estão sendo pensados e o destaque de Bellintani é o ‘Agente de Escola’, que promete aproximar pais, alunos e escola na luta contra a evasão escolar. Mais detalhes sobre os planos para o biênio 2015/2016, o secretário de Educação conta na entrevista da semana do Bahia Notícias.

Um novo desafio. Bellintani era a menina dos olhos da Prefeitura de Salvador, era o secretário que mais aparecia na mídia,  por conta da própria função e por conta do desempenho. Como transpor o trabalho de Bellintani da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura e da Saltur para a Secretaria de Educação?

Primeiro, o trabalho que a gente fez na Secretaria não foi um trabalho de grande visibilidade de uma hora pra outra. Se você observar os seis primeiros meses da gestão, praticamente não havia notícias ou políticas públicas visíveis da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura. Nós passamos os seis primeiros meses de gestão concebendo o que seria o projeto dessa secretaria. Hoje, naturalmente, a gente tem um retorno de visibilidade e de efetividade das políticas que a gente implementou, mas no começo foi um grande momento de mergulhar nas políticas da secretaria. Era uma secretaria nova, o que a gente teve que fazer foi praticamente começar do zero. Agora, na Secretaria de Educação, a gente vai ter que passar por uma fase muito parecida. Um processo de estudo, diganóstico e identificação das metas e das políticas que a gente vai implementar. Eu diria que naturalmente o tempo que a gente teve na primeira fase da gestão, na outra secretaria, foi maior do que o que a gente tem nessa. Primeiro porque, de fato, a gente só tem mais dois anos de gestão e segundo porque há políticas já iniciados na gestão do secretário Jorge Koury que precisam ser implementadas ou aprofundadas. A gente está concluindo o que na outra secretaria demorou seis meses para ser construído. Com 20 dias a gente já tinha um plano de gestão. Agora com 45 dias a gente completa a divisão e a formação de equipe, a divisão desse plano de gestão e desdobramentos desse plano de gestão em metas, em marco de entrega e com as equipes responsáveis, de forma que eu estou muito otimista. Concluindo esses 45 – 60 dias que a gente está fechando agora, já em março a gente tem implementação de políticas que vão dar muito resultado no curto prazo, inclusive.

Quais seriam elas?

Basicamente, a gente tem uma divisão aí em três pilares. O primeiro pilar, que é de infraestrutura física, a gente precisa ampliar as vagas da educação infantil, que é de 0 a 5 anos, e precisa melhorar a qualidade da infraestrutura do ensino fundamental, que é a partir de 6 anos. O que aconteceu durante anos em Salvador é que o município tentou ampliar as vagas e construir novas creches a partir de um modelo que não funcionava na cidade, de terrenos grandes, por exemplo, 2 ou 3 mil m², e que é muito difícil, por exemplo, na Liberdade você encontrar um terreno de 3 mil m².  Essa foi a grande causa de estagnação de crescimento da rede. O que nós fizemos agora foi concluir um projeto, que iniciamos em janeiro, de uma unidade de creche compacta – uma unidade-creche que naturalmente vai ter menos área de lazer, vai ser menos ampla no sentido físico, mas vai ter a mesma qualidade, vai obedecer às normas nacionais e internacionais, inclusive para oferecer ao aluno um lugar aprazível e de boa qualidade para que ele consiga ter a primeira etapa da educação. Com essa creche compacta, um terreno de 550 m² a gente consegue uma creche com a mesma quantidade de salas de um terreno de 1,8 mil m², simplesmente revendo conceitos arquitetônicos. Já em março a gente começa um processo licitatório para contratar em torno de 50 unidades dessa, o que vai ser um investimento significativo e vai ampliar a rede como nunca se viu na história da cidade. No segundo plano, tem o elemento pedagógico. A gente tem hoje uma pedagógica muito grande, a rede municipal não tem um sistema pedagógico próprio e nem adota um sistema nacional de forma ampla na própria rede. O que há hoje é uma colcha de retalhos de adoção de materiais pedagógicos, de conceitos pdagógicos, que faz com que um aluno do primeiro ano de uma escola A veja naquela semana um assunto completamente diferente de um aluno na escola B na mesma rua. O que acontece hoje é que não há unidade. Veja que ter unidade não se refere necessariamente a tirar a autonomia pedagógica do profeossor na sala de aula. Precisa ter uma linha pedagógica que oriente o professor, que oriente a escola e que seja construído também pelo professor e pela escola. O que a gente defende também no pilar pedagógico é um sistema estruturado próprio que envolva ali um material feito especialmente para rede de Salvador, com sistema de avaliação tambémm próprio da rede de Salvador, um sistema de formação de docentes que também seja vinculado a esse projeto todo. Com esse tripé avaliação, formação e material pedagógico, a gente vai conseguir ter um sistema próprio. Nós já coeçamos a construção desse sistema. Formamos agora uma comissão como professores especialistas em cada uma das áreas, que vão ao alongo de um ano estudar, conceber e implementar o novo sistema estruturado de salvador. O terceiro pilar – portanto, falei de estrutura física e da pedagógica – diz respeito ao envolvimento das pessoas e da comunidade. Todo projeto há muitas boas intenções na área educacional que não se implementam basicamente por um motivo muito especial e não é necessariamente de recurso, como todo mundo fala. A dificuldade de implementação de bons projetos é que eles são implementados de forma inadequada. Há vários exemplos disso no Brasil, de projeto que são às vezes bons, mas que não passaram por uma construção própria da rede, não nesceram daquela própria rede e a gente precisa compreender o envolvimento daquela rede, mais ainda, o envolvimentos dos pais e da comunidade em torno da escola como necessário para o crescimento da escola. É muito importante dizer que a escola não é, mas deveria ser o ponto de atração de qualquer comunidade. Ela é o principal equipamento público de qualquer comunidade, mas ela não traduz isso na prática, sobretudo na realidade de Salvador. Esse envolvimento é fundamental para que de fato haja uma transformação na escola.
E como é que se configura na prática?

Vou dar um exemplo de um projeto que a gente está implementando, que é muito simples, mas que vai dar impacto significativo. É o projeto chmado ‘Agente da Educação’. Há mais de um década já se vê o agente de saúde da família com um poder de transformação muito grande na coumunidade. É o médico que visita a casa muiats vezes, ou o agente de saúde que visita a casa de alguma pessoa e identifica qual é a circunstância que a pessoa está envolvida, qual o impacto da política de saúde naquela pessoa, o que o estado ou o município precisa fazer pra transformar a vida daquela pessoa a que se refere as políticas de saúde. Em educação nunca se fez isso. Não há projetos nacionais que sejam significativos e mostrem essa visão da escola para os pais. O começo do projeto vai ser via Fundação Itaú Social, a gente está com parceria com Itaú que ja tem fundação que trabalha isso em vários lugares do Brasil, mas em nenhum lugar a fundação Itaú faz isso de maneira universal. Faz sempre com pequenas amostras de escolas. E em praticamente todos os projetos envolvidos nessas escolas que tem os agentes trabalhando – eles dão outro nome, Coordenadores de Pais -, a evasão cai praticamente a zero. Então, o que Salvador vai fazer de pioneiro: trazer esse projeto para a totalidade da rede. Esse projeto normalmente é identificado por um assistente social ou por alguém que tenha histórico voltado à assistência social, e que vai casar a relação e as necessidades do pai com a escola, mas de maneira ativa, não de maneira simplesmente receptiva à demanda que o pai trouxe. A gente vai gerar demanda. Esse é um projeto importantíssimo para a integração da comunidade pelo pilar que eu venho dizendo de envolvimento das pessoas, dos professores e da comunidade como um todo.

A Secretaria de Educação foi gerida um ano por um político, João Carlos Bacelar, outro ano por um político médico, Jorge Khoury, e ao todo o senhor disse que a secretaria não tinha planejamento. Quando o senhor chegou, como encontrou a secretaria?

É absolutamente na380x253xgui2_converted.jpg.pagespeed.ic._5tkmLXWAotural que secretarias sejam geridas por políticos. Acho absolutamente natural e não é necessarimente ruim. Há políticos que sabem dar excelentes resultados e há técnicos que não conseguem dar excelentes resultados. O que eu encontrei na secretaria foi, por um lado, situações que merecem correções imediatas, por exemplo, o excesso de terceirizados – a gente está relocando, reduzindo e economizando para conseguir investir em outros projetos – e, por outro lado, encontrei projetos muito bons, mas que faltava aplicação. Esse projeto, por exemplo, que eu citei que a gente vai transformar no projeto ‘Agente de Educação’ já tem dez escolas em Salvador que estão trabalhando esse projeto e reduziram a evasão a zero. Só que a questão desse projeto é que é pioneiro, quase piloto. Se tem uma coisa que eu estou dizendo claramente é: eu não vou ser um secretário de projetos pilotos. Porque em educação já se sabe amplamente as coisas que dão certo e as coisas que não dão certo. A gente não precisa inventar a roda. No âmbito da educação há um discurso de que a educação é o futuro. O problema disso é que se diz isso há 20, 30 anos. O futuro já é hoje, não é mais amanhã. Toda a minha ação na secretaria vai ser concebendo o futuro como hoje, porque nessa história que o futuro é amanhã, gerações já foram perdidas. A gente não tem mais o direito de aprofundar isso. Eu venho dizendo basicamente que estamos pegando tudo na secretaria que a gente entende como equivocado e deixando de lado ou corrigindo imediatamente. E estamos pegando bons projetos que já existiam e aprofundando, intensificando e às vezes dado um caráter mais universal a ess
e projeto, também trazendo experiência de outras cidades, de outros estados, que conseguiram avançar bastante. Eu não estou na Secretaria de Educação para exercitar meu poder de criatividade. É completamente diferente da gestão anterior na secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, que a gente teve que criar circunstâncias inovadoras. A inovação na Secretaria de Educação é fazer o simples e fazer bem feito.

 

‘Inventar a roda’, inventar novos métodos, era o que se fazia na gestão passada da Secretaria de Educação?

Não. Eu acho que havia um problema, olhando o diagnóstico do que aconteceu especialmente nessa gestão, é muito difícil o tamanho da Secretaria de Educação. Para se ter uma ideia, na secretaria nós tínhamos o secretário, um subsecretário e um diretor de Educação. Esses eram os três cargos, em nível de direção, que comandavam um orçamento de R$ 1 bilhão e atuavam com 7 mil professores, 7 mil terceirizados, 140 mil alunos e 428 escolas. Era impraticável. A reforma administrativa aprovada em dezembro transformou os três cargos em secretário, sub-secretário e quatro diretores. Além disso, criamos dez gerências regionais, que antes era em nível de coordenação. Toda a cidade de Salvador é dividida em dez coordenações. Agora a gente tem dez gerências em cada um desses setores que vão atuar como sub-secretários locais para trazer as demandas de cada escola para a secretaria. O que acontecia era o seguinte: se o portão quebrava numa escola na Regional Subúrbio 1, por exemplo, essa informação não chegava na secretaria ou chegava de maneira completamente atrasada e daí a capacidade de reação era muito pequena. A reforma administrativa que a gente fez vai nos dar braço para atuar de forma mais contundentes nessas coisas. O que eu dizia é que havia uma dose errada, o remédio estava errado, pra uma doença muito grande. Não tinha como consertar. O que a gente fez foi ampliar essa estrutura de pessoas. Hoje a gente tem uma equipe que eu estou plenamente satisfeito e acho que vai ser adequado. O que eu deixar de fazer não vai ser por falta de equipe, pode ter certeza, e não vai ser por falta de recursos também. Pode ser por outras dificuldades, inclusive minhas próprias limitações, mas não vai ser por falta de recursos nem por falta de equipe.
Quando se fala em investimento em Educação, é uma questão que se trata de resultados de médio e longo prazo, principalmente. Qual resultado de curto prazo a população acadêmica, os estudantes e as famílias dos estudantes podem sentir em breve, a partir da sua administração?380x253xgui3_converted.jpg.pagespeed.ic.u-YdddsVoc

Se a gente considerar curto prazo como dois anos, que é o que eu acho razoável, diria que diversos resultados já vão vir à tona, alguns já em 2015 e outros em 2016. Primeiro, na questão da infraestrutura da rede – eu falo que a gente deve encerrar 2016 com uma quantidade de vagas significativa em creche pré-escola, inclusive universalizando a pré-escola de 4 e 5 anos, que é nossa obrigação. A gente tem obrigação de até o final de 2016 universalizar as vagas para 4 e 5 anos e a gente vai conseguir fazer isso com esse novo modelo de creche. Esse é um resultado de curtíssimo prazo em infraestrutura, que normalmente só reflete em médio prazo. Programas como esse do ‘Agente da Educação’, que vai ser um programa extremamente inovador em nível Brasil, também é resultado inovador e de curto prazo. A implantação de 1/3 da jornada do professor já fruto do plano de cargos, carreira e vencimentos, aprovado em dezembro, a gente vai impantar já em 2015. Vai ser um elemento inovador porque vai dar muito mais qualidade para o professor atuar na sala de aula. A implantação do sistema pedagógico, a cidade vai passar a ter uma lógica pedagógica dentro das escolas, isso já com reflexo nesse curto prazo 2015/2016. Eu diria, sem querer ser otimista demais, que a secretaria que a gente vai entregar no final de 2016, a rede municipal de educação, ela é significativamente melhor do que a que nós recebemos. E não há nada de exagerado nisso. É apenas nossa obrigação. Num olhar mediano, eu diria que a gente vai dar um salto significativo entre 2015 e 2016.

Isso significa que Bellintani fica na secretaria até o final de 2016?

Sim, o meu compromisso com o prefeito é esse, ficar até 31 de dezembro de 2016. Essa é minha meta.

O Ministério da Educação aprovou um novo piso salarial para os professores. Salvador vai conseguir pagar esse piso?

Salvador já paga esse novo piso. A gente tem uma remuneração do professor que está longe de ser a ideal, mas é razoavelmente acima da média nacional. Pra se ter uma ideia, com o reajuste do piso, só tem um caso de um docente da rede que recebe hoje menos do que o novo piso. E esse docente não tem histórico de atividade em sala de aula, foi um docente que trabalhou em gabinete, por isso ele está abaixo desse novo piso. Eu diria que esse novo piso felizmente não é um problema para os professores da cidade.