Rede municipal tem 67 escolas que não poderiam ser escolas

13 de jul de 2015 - Jornalismo

67 escolas da rede municipal de ensino estão em uma lista de situação “crítica”, sem a menor condição de abrigar alunos, professores e salas de aula

 Quem perguntar aos alunos da sala do 2º ano A da Escola Municipal Batista Vasco da Gama, que fica na Rua Dinorá (um beco no Vale da Muriçoca), no Engenho Velho da Federação, qual é o maior problema do local onde estudam, provavelmente vai ouvir, em coro, a mesma resposta: o calor.

RTEmagicC_67escolas.jpgPor isso, a unidade está na lista das 67 escolas da rede municipal de ensino em uma situação “crítica” e, portanto, sem a menor condição de abrigar alunos, professores e salas de aula. “Nessas, os diretores já podem começar a procurar um novo lugar (para a secretaria alugar)”, afirma o secretário Guilherme Bellintani, em visita à escola Batista Vasco da Gama. Dessas, 12 já estão sendo reconstruídas e cinco em processo de mudança para outros prédios.
“Falta ventilador!”, gritaram três, de uma só vez. “Mosquito da dengue!”, alertou outra garota. “Nós temos 23 alunos na sala, mas hoje só vieram 15. Tem aluno com dengue, aluno com zika…”, confirmou a pró Sueli Espírito Santo, que trabalha na rede municipal há 14 anos.

Mas, para a Secretaria Municipal da Educação (Smed), os meninos até que estão sendo bem otimistas. O prédio do colégio, na verdade, é uma casa improvisada no anexo de uma igreja. Lá, não dá nem para abrir as janelas sem dar de cara com a intimidade de alguma família
que mora na mesma rua. Um bueiro está aberto bem na entrada da escola – que, na verdade, é apenas mais uma das grandes escadas que dificultam a acessibilidade dos alunos com deficiência física.

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Hoje, grande parte do problema da rede é fruto da própria forma como ela foi criada, na visão de Bellintani. “A rede foi concebida como um eterno puxadinho. Quanto mais a escola tiver sido planejada para ser escola, menos problemas vão existir”, aponta o secretário. No entanto, ao longo dos anos, muitos imóveis que não tinham a menor estrutura para ser escolas foram transformados em instituições de ensino.

Para o secretário, não há dúvidas de que a melhor saída para essas unidades é mudar de lugar. “Vamos em busca de uma alternativa com outro lugar, mas, enquanto isso, vamos melhorar, colocando ar-condicionado, pintando”, afirmou. Instalar ar-condicionado em 20% das salas de aula é uma das metas do programa Combinado (abaixo). Outra meta é colocar pelo menos dois ventiladores por sala.

Com 112 ações, programa envolve quatro áreas
Com a promessa de mudar a cara da educação de Salvador, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) lançou, no dia 30 do mês passado, o Programa Combinado, que envolve ações em toda a rede municipal de ensino. Ao todo, são 112 ações em quatro áreas: infraestrutura (melhorias na rede física), suporte às escolas, criação de um projeto pedagógico próprio e relacionamento com a comunidade onde estão as escolas ou onde elas devem ficar no futuro.

Entre as ações, é possível destacar a implantação de um núcleo de psicólogos para atuar uma vez por semana nas instituições, um programa de autonomia financeira que disponibilizará recursos mensais para as unidades resolverem pequenos problemas do dia a dia da escola  e a própria construção do projeto pedagógico (que será concluído até 2016).

“Não estamos propondo ações fantasiosas. Vamos fazer quase o óbvio”, afirma o secretário Guilherme Bellintani, que deseja, até o fim do ano, ter 90% das metas do programa alcançadas em todas as escolas.

“Entendemos que, com isso, vamos dar um salto significativo”. Por ano, o investimento será de R$ 250 milhões, em recursos próprios. Outras ações já estão em andamento, como a compra de mobiliário novo e de ventiladores. Para conceber o projeto, foram realizados encontros com os dez gerentes regionais de ensino.

“Deixamos de lado apenas as boas intenções na educação para colocar no lugar ações práticas que vão envolver família, professores, comunidade e a prefeitura, por isso (o nome) Combinado”, explica o prefeito ACM Neto. Todas as ações do programa estão no site www.combinado.
educacao.salvador.ba.gov.br
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