Salvador é a capital que mais subiu no Ideb; foram nove posições

09 de set de 2016 - Jornalismo

Thais Borges (thais.borges@redebahia.com.br)

Aos 7 anos, Kauane Silva consegue contar histórias sobre os baobás africanos com a familiaridade de poucos. “Na África, o baobá é uma árvore sagrada. Se você se encostar, tem um monte de sonhos”, professa a mocinha, na sala de aula do 2º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Senhora Santana, no Rio Vermelho, unidade que teve a terceira maior nota em Salvador no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) 2015, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC).

Kauane e os coleguinhas ajudaram a cidade, que ocupava a última colocação no Ideb entre as capitais, considerando o ensino na rede pública municipal, a saltar nove casas, indo para a 17ª posição no ranking, com nota 4,7. A meta, no ano passado, era chegar a 4,2. Além disso, foi a capital que teve a maior evolução no ranking educacional.

As 142 crianças da Senhora Santana – que só perdeu para as escolas municipais Armando Carneiro da Rocha, em Praia Grande, e Recanto dos Coqueiros, em Pituaçu, ambas com 6,5 – estão imersas em um projeto interdisciplinar sobre a África chamado “Em Busca de Nossas Raízes Africanas”.

E, para o corpo docente da escola, não há dúvidas: são projetos assim, dentro do novo projeto pedagógico da rede, os principais responsáveis pela evolução. Em 2013, a escola tinha atingido a nota 4,5 – com queda, depois de um 4,7 em 2011. Mesmo assim, tinha superado a meta para 2015, de 4,1. Agora, o grande salto, que coincide com o bom desempenho da rede.

Em 2011 e 2013, Salvador ficou com notas congeladas, para alunos até o 5º ano: 4 nas duas vezes. Em 2007, o Ideb foi de 3,8. Em 2009, caiu para 3,7. Com a nota de 2015, a cidade já supera, inclusive, o esperado para 2017, que é de 4,5. O Inep, órgão ligado ao MEC que organiza a avaliação, tem metas projetadas até 2021.

Rede de diálogo

São selecionados para a prova os alunos do 5º ano de todas 424 escolas da rede municipal. Segundo a secretária da Educação, Joelice Braga, o resultado é consequência de um modelo que prioriza o diálogo. “Temos iniciativas como o Programa Combinado, que são 112 ações articuladas entre a secretaria e as escolas, em que pensamos, juntos, soluções para que a escola funcionasse”, exemplificou.

Ela citou, ainda, programas como o Agente da Educação, que é a presença de um profissional em cada escola para diminuir a evasão escolar, que caiu 54%; o Idade Certa, que diminui a chamada “distorção de série e idade”, incluindo parceria com o Instituto Ayrton Senna; e o projeto pedagógico Nossa Rede, que usa a realidade de Salvador nos livros e cadernos trabalhados em sala.

Ao todo, cerca de 190 escolas foram reformadas ou construídas – outras 31 serão entregues até o fim do ano. Segundo Joelice, 28% do orçamento do município foi investido em educação – um acréscimo de R$ 350 milhões anuais na área além do obrigatório constitucionalmente. Conforme a prefeitura, antes apenas 22% do orçamento eram destinados à Educação, contrariando, inclusive, o que estabelece a legislação, que prevê aplicação de 25% para o setor.

“Estamos no caminho certo. Os próximos desafios são aumentar os investimentos em educação infantil, infraestrutura da rede física e ampliar as vagas de educação em tempo integral.   O município cresceu junto com as escolas. É um resultado coletivo, fruto do trabalho de uma rede de ensino”, afirmou Joelice, lembrando ainda projetos pioneiros como a criação das Escolabs – Escolas Laboratórios, projeto realizado em parceria com o Google, com foco em inovação. Ele funciona em regime de Educação em Tempo Integral, que foi ampliado em 164%, segundo a prefeitura.

Camila é aluna do 4º ano da Escola Municipal Senhora Santana (Foto: Marina Silva/CORREIO)

Camila é aluna do 4º ano da Escola Municipal Senhora Santana (Foto: Marina Silva/CORREIO)

De cada escola

Além das medidas na rede, há, claro, as atitudes individuais de cada escola – é o caso da Senhora Santana. Cada ano tem seu tema, que deve ser trabalhado em todas as disciplinas, até mesmo em Educação Física e Língua Estrangeira. Na aula de Inglês, por exemplo, a professora traz músicas do cantor jamaicano Bob Marley, para discutir temas  relacionados ao povo negro, assim como sua autoestima.

“O foco na interdisciplinaridade foi surgindo com os anos e cada disciplina usa sua linguagem dentro do projeto. Ao final disso, a criança realmente assimila conhecimento, não só informação”, opina a professora de Dança Maria de Fátima do Sacramento.

Apesar disso, a nota ter crescido tanto foi uma surpresa para os próprios professores, segundo a vice-diretora, Paula Shirley. “Foi uma surpresa boa. Como temos 143 alunos, também é bom conhecer a individualidade de cada um, é bom conhecer a família, estar perto”, afirmou.

No ano que vem, vai ser a vez da turma de Camila de Jesus, 10,  fazer a Prova Brasil, um dos critérios para a nota do Ideb. Aluna do 4º ano, Camila diz que o projeto da África foi o seu preferido. “Acho que gostei porque somos da raça negra. E muitas coisas da África que estão até hoje”, comentou.