Confira artigo do secretário Ney Campello – Todos Pela Educação

25 de out de 2006 - dev

TODOS PELA EDUCAÇÃO

No último mês de setembro, às vésperas das festividades da Independência do Brasil, mais de 1.500 brasileiras e brasileiros reuniram-se nas escadarias do Museu do Ipiranga, em São Paulo, para o lançamento do movimento “Compromisso Todos Pela Educação”. Lá estavam o bibliófilo José Mindlin, aos seus 90 anos, ao lado de grandes expoentes do empresariado nacional, a exemplo de Jorge Gerdau, José Roberto Marinho, Luís Norberto Paschoal, Ana Maria Diniz, além do ministro da Educação, Fernando Haddad, Maria do Pilar, coordenadora nacional da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), Mozart Neves Ramos, presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), Viviane Senna, Milú Vilela do Instituto Faça Parte, dentre outras lideranças do mundo político, cultural e educacional brasileiro. Um brado uníssono de cidadania ecoou pelas ruas paulistanas, como se fosse um segundo grito de Independência – TODOS PELA EDUCAÇÃO!.

Configura-se um pacto nacional para a promoção de uma educação pública de qualidade, de caráter supra-partidário, reunindo governo, empresas e terceiro setor, que se expressa em 05(cinco) grandes metas a serem atingidas até 7 de setembro de 2022, o ano do bicentenário da Independência. 1) Toda criança e jovem de 4 a 17 anos estará na escola; 2) Toda criança de 8 anos saberá ler e escrever; 3) Todo aluno aprenderá o que é apropriado para a sua série; 4) Todos os alunos vão concluir o Ensino Fundamental e Médio; 5) O investimento em Educação Básica será garantido e bem gerido.

Esse movimento representa, de fato, uma tomada de consciência da nação quanto a dramaticidade da situação por que passa a educação brasileira e o risco iminente de condenarmos o país e sua gente ao estado de subdesenvolvimento e pobreza, num mundo em que o conhecimento é a principal via de inserção econômica e mobilidade social.

As estatísticas educacionais são reveladoras desse preocupante quadro. De cada 100 alunos que entram na 1ª série, apenas 47 concluem a 8ª série na idade certa, somente 14 terminam o ensino médio sem repetir ou evadir e apenas 11 ingressam no ensino superior. É baixíssima a taxa de escolaridade no Brasil. Os alunos ficam, em média, 5 anos na escola, contra 12 nos Estados Unidos, 11 na Coréia do Sul e 08 na Argentina. Mesmo a chamada universalização do acesso ao ensino fundamental, para os alunos de 7 a 14 anos, estimada em 97%, omite o fato de que os 3% que estão fora representam nada menos que 1,5 milhão de crianças marginalizadas do acesso aos saberes. Na educação infantil apenas 11,7% das crianças até 03 anos estão na creche e somente 68,4% das crianças de 4 a 6 anos freqüentam a chamada pré-escola.*

Uma outra dimensão desse desafio, ainda mais dramática, diz respeito ao baixo nível de aprendizagem atestado pela recente avaliação nacional, o Prova Brasil, em relação aos alunos de 4ª e 8ª séries. Na 4ª série, 61% dos alunos não conseguem identificar as idéias centrais de um texto e 65% não realizam as quatro operações. Para a 8ª série, os resultados são igualmente desanimadores: 60% não conseguem interpretar um texto dissertativo e 60% não sabem porcentagem. Conclusão: os alunos brasileiros de 8ª série concluem o ensino fundamental com conhecimentos equivalentes à 4ª série de um aluno americano, chileno ou coreano. **

Não há saída para o desafio da promoção de uma educação pública de qualidade que não passe por um pacto nacional que reúna governos, empresas e sociedade civil para elevar a educação ao status de causa republicana. Não há receita pronta. É preciso associar boa gestão e elevação dos recursos públicos previstos constitucionalmente, sensibilizar as empresas quanto a responsabilidade social que o tema reclama, valorizar os professores, sobretudo com políticas eficazes de formação e bons salários e incorporar as milhares de experiências de sucesso em curso no país, que comprovam a possibilidade de reversão do fracasso escolar, conjugando compromisso, criatividade e respeito para com os estudantes.

A educação passou a ser um “mantra” integrado à retórica repetitiva de políticos e educadores. A hora é de crer e fazer, de tornar a educação uma política de Estado numa perspectiva de longo prazo, e unir o país para um novo grito de independência, liberdade e soberania: TODOS PELA EDUCAÇÃO!
* Fonte: MEC/INEP
** Fonte: Prova Brasil

Professor Ney Campello – Secretário Municipal de Educação e Cultura.