Editorial do Jornal A Tarde elogia combate a evasão escolar em unidades da rede municipal de ensino

03 de set de 2007 - dev

Simples e objetivo

Nem tudo são trevas no sistema educacional da Bahia. De vez em quando, acendem uma luz, fraca como de vaga-lume, mas que vem a servir de guia a professores, pais e alunos. Tenta-se, com ela, reduzir o nível de evasão escolar, que lhe dá o último lugar, ao lado do Piauí e Rio Grande do Norte, no índice de desempenho da educação básica, considerados os anos iniciais.

Trata-se de medida prática, inspirada no filme chinês Nenhum a menos. Quer dizer: todos na escola, mesmo que falte o professor por algum motivo, mesmo que os pais não estimulem o menino a dormir cedo para cedo acordar e ir às aulas e não lhe criem horário adequado à televisão. E assim por diante. A partir das bases, que são as famílias, muda-se o comportamento do aluno.

Este aprenderá a respeitar a escola, a considerá-la essencial à sua formação e vida futura, se contar com o exemplo de casa. Em geral, culpa-se o aluno pela deserção à escola, quando, na maioria dos casos, ele não é motivado. Ao faltar, perante o filho, com a responsabilidade de mandá-lo à escola, os pais o deixam crescer indolente, viciado em estratagemas, despreparado para obter trabalho qualificado.

Este programa de conscientização, que caberia ao governo, com os recursos de que dispõe, é aplicado em Salvador, com resultados animadores, em quatro escolas públicas do bairro da Liberdade. Seu idealizador é o professor José Albertino Lordelo, da Universidade Federal da Bahia, e sua executora Nicléia Gama, vice-diretora da Escola Municipal Abrigo dos Filhos do Povo – núcleo do projeto.

No curto período de quatro meses, o Nenhum a menos já conseguiu reduzir a evasão escolar em 20%. Perdeu parte do crédito aquela velha desculpa de que o aluno abandonou a escola porque precisava ajudar a família. Havendo quem por ele se interesse, quem com ele dialogue e o convença da necessidade de convivência escolar, o aluno vai adquirindo responsabilidade, apesar de carente.

No filme, um professor se ausenta, mas deixa uma aluna de 13 anos em seu lugar. É esse o espírito do projeto em curso no Abrigo dos Filhos do Povo. Baseia-se na solidariedade, o interesse humano é a matéria nobre do currículo. Assim, a escola pública baiana talvez chegue a 2021 com a nota 6 fixada pelo Ministério da Educação