Escola Cidade de Jequié lança Jornal

08 de jun de 2007 - dev

Depois do lançamento do livro Visão Inocente em dezembro de 2002, mostrando o reflexo da violência urbana e doméstica dentro das escolas, o professor Antonio Luiz Diniz lança este mês o jornal O Grito. O objetivo, mais uma vez, é denunciar as mazelas que terminam atrapalhando o rendimento escolar dos alunos da Escola Cidade de Jequié, no bairro da Federação.

Como no livro, o jornal traz depoimentos comoventes de jovens entre 10 e 18 anos, estudantes da 5ª a 8ª séries, que moram no Engenho Velho da Federação, Baixa da Égua, Vale da Muriçoca, Ferreira Santos e Alto da Pombas. Diniz observa que tudo que eles narram acaba influenciando no baixo aprendizado, refletindo no alto índice de reprovação.

Adepto confesso da educação libertária e afetiva, Antonio Luiz Diniz conquistou a confiança das crianças com a linguagem que elas mais entendem: o carinho para levantar a auto-estima da turma. Ele utilizou também a experiência de quase 25 anos atuando como professor de Educação Física. Devoto de Cosme e Damião, os ‘santos meninos’, o professor fortalece na espiritualidade a preocupação com as crianças. Diniz disse ser sabedor de que o esforço para ser alguém na vida aumenta quando o adolescente vive em uma comunidade carente. Ele lembra que a sua história de vida ampliou a sensibilidade em relação à problemática da criança carente, pois foi uma delas e, aos 14 anos, começou a trabalhar para ajudar a criar os sete irmãos.

A idéia de lançar o jornal nasceu quando Diniz resolveu fazer uma nova pesquisa, visando avaliar o que mudou nos últimos quatro anos, depois do lançamento de Visão Inocente. “Infelizmente a constatação foi cruel. Nada mudou. A violência aumentou e o reflexo disso tudo é cada vez pior dentro da escola, baixando o nível de aprendizado. Quando chega ao final do ano, a reprovação é grande”.

Para fazer O Grito foi usada a mesma metodologia utilizada para editar Visão Inocente. Os alunos da Escola Cidade de Jequié fizeram vários textos narrando suas experiências com a violência que acontece na região da Federação. Existem histórias realmente comoventes. Uma garota de 12 anos, por exemplo, narrou que o pai se separou da mãe e hoje finge que é louco só para não pagar pensão. Um menino de 13 anos escreveu que tem dificuldades para aprender e o pai quer que ele aprenda na base na porrada.

Existem relatos de crianças que falam sobre o tráfico de drogas na região e alguns que já enfrentaram tiroteios no meio da rua e presenciaram mortes de parentes e amigos na porta de casa. Segundo Diniz, essa violência que ocorre fora dos muros da escola acaba refletindo no ambiente escolar. “A situação é grave e afeta diretamente no dia-a-dia dentro da escola com brigas, depredações e até agressões aos professores”.

Diniz afirma que as cenas de crueldade viraram coisas rotineiras para esses jovens. “Por isso, no jornal, fazemos um balanço geral da situação, mostrando que o professor não deve esquecer o papel da escola e a importância da parceria com a comunidade para tentar acabar com esse grave problema”.

Nas redações os jovens se referem a essa situação de maneira tão natural que chega a assustar, porém isso já virou uma coisa normal para eles. “Tudo isso acontece em função de crise familiar, desemprego, omissão dos pais e carências múltiplas. Assim, o professor também tem que saber lidar com essa problemática e o afeto é o melhor caminho”, afirmou Diniz.

O professor lembra que são necessárias algumas ações claras para acabar ou minimizar o problema. Ele destaca a importância de um trabalho educativo, políticas de segurança, atendimento especializado às famílias desagregadas, atendimento psicológico, assistência social, controle da natalidade infantil, construções de centro de esportes e eventos culturais e aplicação cada vez mais sensata do Estatuto da Criança e do Adolescente”.

O lançamento do jornal ainda não tem data prevista porque a direção da escola vai esperar o final da greve dos professores. E porque um jornal e não um livro como na primeira pesquisa? Diniz disse que desta vez decidiu fazer um jornal com o objetivo de que sua mensagem possa atingir um maior número de pessoas. “Um livro seria bem mais caro e eu não poderia produzir grande quantidade. O jornal terá uma tiragem de 10 mil exemplares que serão distribuídos, além de toda a comunidade escolar, em vários pontos do bairro, como bares, padarias, posto de gasolina, igreja, associações, supermercados, barbearias etc. O objetivo é dar voz e fazer ecoar o grito desses jovens da região da Federação, que sofrem com o alto índice de violência”.

Diniz faz questão de destacar que para fazer o jornal teve apoio da direção da escola, particularmente da diretora Tereza Falcão e de alguns amigos, dentre eles os empresários Gilson Benzota, Ednaldo Rodrigues, Paulo Cunha e Valfrido Barreto.