Escola da rede é destaque no Caderno de Meio Ambiente do Jornal A Tarde

05 de jun de 2007 - dev

As pessoas não pensam no futuro, só no agora

MAIZA DE ANDRADE E MARIANA GÓES

Vitor Roberto Silva, autor da frase do título, tem 10 anos e estuda na Escola Municipal de Pituaçu, em Salvador. No dia 17 de maio, ele e os colegas foram ao Parque de Pituaçu assistir ao documentário de Al Gore, Uma verdade inconveniente, que trata do aquecimento global.

Na sua opinião, reduzir “o número de empresas que poluem e a quantidade de carros nas ruas” seria uma solução para reverter a emissão de gases que fazem a atmosfera ficar mais quente que o normal.
“Não sei como vai ser meu futuro. Acho que as pessoas não cuidam bem da natureza”, disse.

A solução sugerida por ele é o que o movimento ambientalista chama de descarbonização. A Rede Internacional de Ação pelo Clima, formada por mais de 360 organizações não-governamentais em 85 países, defende que os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, adotem a “trilha da descarbonização” para garantir que cheguem ao patamar de “desenvolvidos” de forma sustentável, ou seja, com menos emissão de gases poluentes.

De acordo com o coordenador da campanha Mude o Clima, do Greenpeace/Brasil, Luís Piva, o Brasil tem 45% da sua matriz energética baseada em fontes renováveis e, com isso, já dá uma contribuição para o clima do planeta.

“Mas ainda precisa e pode investir mais em energias eólica e solar, cujo potencial é imenso, optar por pequenas centrais hidrelétricas sem barramento, aproveitar o biogás gerado nos aterros sanitários e nas estações de tratamento de esgotos, promover o uso de biodigestores em áreas isoladas e garantir que a expansão do álcool e do biodiesel se dê pela recuperação de áreas degradadas”, observa ele.

O desafio de descarbonizar envolve decisões e compromissos de governo, principalmente quanto às fontes de energia, e também das pessoas em relação ao padrão de consumo. O pesquisador Carlos Nobre, do IPCC, é otimista quando afirma que “as pessoas estão ficando mais solidárias a este compromisso”.

“O compromisso que a nossa geração e as duas próximas têm é com o futuro mais distante, de 50, 100 e 200 anos. É com as próximas gerações, é um compromisso que é muito mais ético porque não é algo que nos beneficia imediatamente, mas é um compromisso de evitar um grande dano, um mal maior para as futuras gerações”, disse.

Para Nobre, evitar o desperdício é a chave. “A nova geração tem aprender a viver bem, com qualidade, mas sem consumismo, sem exagero do consumo, sem desperdício de recursos naturais. Este é um valor cultural, então temos que sair dos valores do consumismo e passarmos para os valores da sustentabilidade, ou seja, diminuir nosso impacto sobre os recursos naturais e o meio ambiente”.

MAL MAIOR– O mal maior a que Nobre se refere tem tamanho. De acordo com as previsões dos cientistas do IPCC, tudo o que puder ser feito hoje será para evitar que o aumento da temperatura média do planeta ultrapasse os 2 graus que já são dados como certos de acontecer nos próximos 30 anos, levando-se em conta as elevações registradas ano a ano nas últimas décadas.

Parece pouco, mas será suficiente para que faltem chuvas nas regiões mais áridas, podendo levar à formação de desertos, ou a chuvas muito intensas em outras partes, provocando inundações e deixando muitos desabrigados, além de perdas econômicas. O aumento do calor também provoca o derretimento de geleiras e, conseqüentemente, o aumento do nível do mar. No Brasil, as previsões apontam para a desertificação das áreas mais áridas da Região Nordeste, para a “savanização” da Amazônia, para a redução da produção de grãos na Região Sul e para o agravamento da erosão na costa.

O desafio de pensar no futuro, coisa que as pessoas não fazem, na opinião de Vitor, vai ainda mais além dos 100 ou 200 anos. Segundo o relatório do IPCC, o dióxido de carbono que já foi emitido pelo homem tanto no passado e as emissões do futuro continuarão contribuindo para o aquecimento e a elevação do nível do mar por mais de um milênio. “Em razão das escalas de tempo necessárias para a remoção desse gás da atmosfera”, explicam os cientistas.