Escola Primeiro de Maio é destaque no Estadão- \”Escola na periferia de Salvador conta com o empenho dos professores para suprir a carência de recursos\”

10 de abr de 2007 - dev

Tiago Décimo

SALVADOR

Instalado num beco da comunidade da Baixado Petróleo, na periferia de Salvador, o galpão era o salão de festas da Igreja Nossa Senhora da Piedade. O espaço, cercado por terra batida e muros altos, tinha piso cerâmico, telhas de barro sem forro, iluminação precária e problemas de manutenção. Para além dos muros, barracos, palafitas,botecos e violência – a região responde por 20%dos homicídios na cidade.

Mesmo assim, há22 anos, a pedido da comunidade, a Igreja cedeu o espaço para a instalação de uma escola pública de ensino fundamental. O galpão recebeu biombos de madeira, com até 1,60 metro de altura. Eles delimitavam as salas de aula. E não impediam que se embaralhassem as vozes de 9 professores e de 300 alunos.

O cenário, desolador do ponto de vista educacional, não impediu a Escola Municipal Primeiro de Maio de ser a única da capital baiana a ter destaque no estudo Aprova Brasil,o Direito de Aprender, do Ministério da Educação como Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A pesquisa foi baseada no resultado que alunos da 4ª série do ensino fundamental conseguiram na Prova Brasil. Eles cravaram181,14 pontos em português e 200,90 em matemática – as médias nacionais foram, respectivamente,172,90e180. -Nosso segredo é o engajamento, o compromisso e a capacidade dos professores, afirma a diretora Simone Barbosa de Jesus, de 32 anos. -Não há outra explicação:não temos recursos para atividades extras, para investir em material didático diferenciado, para abrir a escola no fim de semana. Simone conta que apenas dois professores não moram na comunidade, o que permite maior proximidade com os moradores.

-Quando um aluno não vem à aula,o professor vai até a casa dele para saber o que está acontecendo, diz ela,que mora a 200 metros da escola. Para Simone, o objetivo é que as crianças passem a maior parte do tempo possível dentro da escola.Vivemos em uma comunidade de risco, na qual alguns pais praticam atividades ilegais para sobreviver. Quanto menos as crianças ficarem expostas, melhor.

Por causa dessa preocupação, a unidade tem vagas para crianças a partir de 4 anos. A pré-escola fica a cargo de uma das mais experientes professoras, Deise Tosta, há 15 anos no local. -E apenas dois professores não têm curso superior, compensado com muita dedicação, ressalta a diretora. Os pais também contribuem com a instituição. A mãe de um aluno ensaia estudantes para o coral.Um outro pai, ex-aluno da unidade, ensina artes.

EVASÃO E MELHORIAS

Simone conta que casos de evasão escolar são raros, mas que, no ano passado, 30 alunos saíram. -O governo entregou um conjunto habitacional em outro bairro a alguns moradores das palafitas”, explica. Em 2006, o índice de aprovação foi de 84,3%. Por causa do resultado na Prova Brasil e do empenho dos professores, a prefeitura fez melhorias no local: instalou divisórias fixas e ventiladores, cimentou a área externa e deu TV,DVD,armários, geladeira e fogão.-O investimento (R$40mil) foi pequeno perto do que esses professores conseguiram, reconhece o secretário municipal de Educação, Ney Campello.

Transcrição de matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo