Escolas lutam pela eliminação da discriminação racial

24 de mar de 2007 - dev

Luiza Torres

Para comemorar o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, as escolas municipais de Salvador estão com uma programação bastante diferenciada. Os eventos vão desde contos literários até participação em ato público. O dia 21 de março foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória do Massacre de Shaperville, na África do Sul. Nesta data, em 1960, cerca de 20 mil negros protestavam contra a Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, deixando um saldo de 69 mortos, destes 19 eram crianças e adolescentes, e mais 186 feridos.

“Este dia não deve apenas lembrar o massacre de Shaperville, mas deve ser um momento de reflexão contra todo tipo de discriminação. Este é o papel da escola, conscientizar os estudantes sobre estas questões. Pesquisas mostram que a democracia racial no Brasil é um mito, porque os negros não têm a mesma oportunidade que os brancos”, defende a presidente da Comissão de Implantação da Lei 10.639/03, Darci Xavier.

Segundo a vice-diretora da Escola Municipal Parque de São Cristóvão, Sara Silva Santos, cada professor será responsável pela atividade a ser desenvolvida na sala de aula. Entretanto, a unidade preparou um mural com figuras representando as três raças que formaram o Brasil: Índio, Branco e Negro. “Isto é para mostrar aos nossos alunos que não existe discriminação apenas com os negros. Existe preconceito de várias cores, etnias e idiomas”, afirma.

Na Escola Comunitária Luiza Mahim, a comemoração contará com a ajuda da literatura infantil, em que os 400 estudantes da Educação Infantil a 2ª série aprenderão a combater qualquer tipo de preconceito através de historinhas que tratam da questão de forma divertida. “A escola sempre teve esta noção de conscientizar os alunos sobre os temas ligados a racismo, preconceito e discriminação. Desde o primeiro dia que entram na sala de aula aprendem a valorizar sua cultura e a respeitar seus amiguinhos”, explica a coordenadora Pedagógica da Educação Infantil, Luciene Trindade.

Outra escola consciente é a Malê DeBalê, localizada em Itapuã, que levará os alunos para participarem de um ato público na Lagoa do Abaeté e fará atividades com os educandos.

Dois anos da Lei

As Diretrizes Curriculares para a Inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, exigida pela Lei 10.639/03, completou dois anos e três meses de implantada na rede municipal. Mas apesar da pouca idade, tem gerado muitos frutos para as escolas, professores, estudantes e comunidade.

Os resultados são obtidos, principalmente através dos esforços e dedicação de cada docente, que se empenha pela busca de qualidade no ensino para melhor atender a seus alunos e alunas. Para isto, são elaboradas oficinas literárias, cursos, palestras e seminários. “Alguns alunos já trazem para as atividades de classe livros que abordam a cultura afro-brasileira e africana ou algum tipo de discussão sobre o tema, provocados por novelas e filmes”, afirma orgulhosa a vice-diretora da Escola Municipal Parque São Cristóvão, Sara Silva Santos. Ela explica que através do “Projeto África Lá e Cá”, a história e cultura africana são trabalhadas também com os pais, através de palestras e debates. Já a coordenadora Pedagógica da unidade, Núbia dos Santos, afirma que o trabalho é reforçado com as aulas práticas, ou seja, os estudantes fazem pesquisas, conversam com moradores de bairros populares para conhecerem e resgatarem a história da localidade. Atualmente, os educandos da Parque São Cristóvão estão conhecendo o maior bairro negro de Salvador: a Liberdade.

Outro bairro que está tendo a história resgatada é Itapoan, que surgiu do Quilombo Buraco do Tatu, que se tornou o mais importante da capital por causa da sua história de luta e resistência. Este está sendo resgatado pelos alunos, professores da Escola Malê DeBalê, que também contam com a ajuda especial da comunidade.

Segundo a presidente da Comissão de Implantação da Lei 10.639/03, Darci Xavier, a SMEC oferece um suporte teórico para que todos os professores possam desenvolver uma ação educativa voltada para a formação de valores e posturas que contribuam para que os cidadãos se valorizem. O ensino da cultura e história afro-brasileira e africana foi introduzido em várias áreas do conhecimento, de maneira interdisciplinar, dentro e fora da sala de aula.