Heróis da Revolta dos Búzios são homenageados na Praça da Piedade

11 de ago de 2006 - dev

Para comemorar os 208 anos da Revolta dos Búzios, conhecida também como Conjuração Baiana, Revolta das Argolinhas, Revolta dos Alfaiates ou Inconfidência Baiana, estudantes da rede municipal de ensino realizaram diversas atividades culturais na Praça da Piedade, como apresentação de fanfarras, jogral, dança afro, poemas e grupos de capoeira. O ato cívico foi uma homenagem aos líderes da Revolta dos Búzios (Manoel Faustino-18 anos, João de Deus- 24 anos, Lucas Dantas 24 anos e Luís Gonzaga- 36 anos), que foram enforcados na Praça da Piedade ainda jovens pela igualdade racial. A comemoração foi instituída pela Câmara Municipal de Salvador como o Dia Municipal de Celebração da Revolta dos Búzios, de acordo com a Lei Municipal 67.86/05.

Segundo o coordenador nacional das Entidades Negras, Gilberto Leal, pouco se fala da presença do negro nas lutas de libertação do Brasil. Ele explica que das 33 pessoas presas, 23 eram negros e alfaiates. Leal lembrou da presença das mulheres na Conjuração Baiana. “As mulheres foram importantes neste processo histórico. Elas reivindicaram por dias melhores para a população negra”, explica. De acordo com ele, os bustos dos quatro heróis da Revolta dos Alfaiates foram colocados na praça, através de uma reivindicação do Movimento Negro de Salvador. “Os estudantes não podem vir na Praça da Piedade sem reverenciar Manoel Faustino, João de Deus, Lucas Dantas e Luís Gonzaga, nossos verdadeiros heróis”.

De acordo com o secretário municipal da Educação e Cultura, Ney Campello, a comemoração, que será realizada anualmente, faz parte do Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana (Lei 10.639/05). “Não podemos esquecer da nossa história, dos nossos heróis. Esta revolução reuniu todos os que sonhavam e lutavam pela democratização e pela igualdade entre negros e brancos. Sem dúvida, foi um dos mais importantes movimentos libertários do país”, ressalta.

Já para o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Paulo Lima, é muito importante para Salvador a introdução da Revolta de Búzios na cultura. Ele afirma que conhecer a verdadeira história da primeira revolução libertária do país é uma maneira de valorizar os heróis negros. “Nossos estudantes devem conhecer seus verdadeiros heróis e pararem de procurar heróis alheios. Os líderes da Conjuração Baiana haviam assimilado os princípios liberais da Revolução Francesa e desejavam usar essa ideologia libertária como princípio condutor da rebelião, por isso devemos seguir este exemplo e também lutarmos por nossa libertação”, afirma.

Durante o ato na Praça da Piedade, o coral formado por alunos da Escola Municipal do Parque São Cristóvão Professor João Fernandes da Cunha cantaram o Hino Nacional Brasileiro, Hino da Cidade do Salvador e o Hino do Congresso Africano. As apresentações artístico-cultural foram realizadas pelas Escolas Municipais: Saturnino Cabral (Jogral), Creche Adalgisa Souza Pinto (Canto), Santa Terezinha do Chame-chame (Poema), São Domingos Sávio (Boletins Sediciosos), Vitória da Conquista (Dança Afro), D. Arlete Magalhães (Coreografia), Sociedade Seis de Janeiro (Coral), Comunitária Luisa Mahim (Dança Afro). A Escola Criativa OLODUM também fez uma homenagem aos heróis. Houve também apresentação de fanfarras das Escolas Municipais: Fazenda Coutos, D. Arlete Magalhães, Alexandrina Santos Pita e Helena Magalhães.

Além do evento na Piedade, estudantes e professores pertencentes a Coordenadoria Regional de Educação (CRE) de Itapoan, em parceria com o bloco Malê de Balê, realizou no sábado (12) uma grande homenagem aos heróis da Revolta de Búzios. Houve apresentação de dança de escolas municipais, palestras e coreografia da Banda Malezinho. Durante o evento, houve o lançamento da música “Força dos Búzios, composição de Juracy Tavares.

Revolta – A Revolta dos Búzios, também chamada de Revolta das Argolinhas, Revolta dos Alfaiates, Conjuração Baiana ou Inconfidência Baiana, reuniu todos os homens que sonhavam e lutavam pela implantação de uma República democrática e justa, e pelo fim da escravidão, que impedia negros e brancos de serem tratados com igualdade.

Foi um dos mais importantes movimentos libertários do país, entre os dias 12 e 25 de agosto de 1798, nos bairros do Pelourinho, Preguiça e Piedade. O movimento recebeu estes nomes devido ao fato de os revoltosos usarem um búzio preso à pulseira para facilitar a identificação entre si, por usarem uma argola na orelha com o mesmo fim e, também, porque alguns dos conspiradores serem alfaiates.

Em 8 de novembro de 1799, foram conduzidos à forca os quatro grandes líderes da Revolta: Manuel Faustino, João de Deus, Lucas Dantas e Luiz Gonzaga.