Servidores municipais relatam experiências de compromisso com a função pública

28 de out de 2016 - Jornalismo

A rotina diária é agitada para imprimir em Salvador um ritmo acelerado de obras, serviços, lazer, cultura, segurança, finanças, ordenamento e mobilidade. No entanto, em meio à dedicação diária de prestar serviços à população, há profissionais que aliam à função pública certas atividades diferentes do ambiente em que atuam, mas que acabam se tornando complementares ao trabalho. Neste contexto, e por ocasião do Dia do Servidor Público, celebrado nesta sexta-feira (28), conheça perfis de servidores municipais atuando também em outros papéis de serviço ao cidadão.

A palavra aventura deveria constar entre os sobrenomes do servidor público Eugênio Domingos de Souza, um pernambucano de 60 anos e radicado em Salvador há 35 deles, mesmo período em que atua na Prefeitura. À sua inquietude não bastou a rotina da Defesa Civil de Salvador (Codesal), mesmo após passar mais de uma década integrando os quadros da Coordenadoria de Salvamento Marítimo da capital baiana (Salvamar). Ele quis mais e, em paralelo, mantém uma vitoriosa carreira como profissional de educação física e triatleta, participando de mais de mil competições. Foi premiado em mais de 800 oportunidades, ultrapassando mais de 600 medalhas e 200 troféus recebidos. Sua mais recente conquista foi o terceiro lugar na segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Triathlon de Longa Distância realizado no dia 23 de outubro, na praia de Piatã.

Além das vitórias pessoais, Eugênio decidiu levar sua atividade para a administração pública, coordenando sessões de ginástica laboral e organizando caminhadas, competições e outras propostas esportivas para a Codesal. “Me sinto muito feliz na função que exerço, mais ainda por trazer em meu dia a dia profissional o trabalho com educação física. Participo constantemente de corridas de rua, maratonas e triatlo e, durante a semana, percorro todo o trajeto de casa para o trabalho a pé ou de bicicleta, além das competições que participo nos finais de semana”, diz.

No dia a dia, Eugênio é responsável por incentivar a prática de exercício entre os colegas. “Converso diariamente com o pessoal sobre a importância de manter uma boa qualidade de vida, que passa por uma alimentação adequada e a prática diária de atividade física, manter exames atualizados. Desde 2003, organizo uma caminhada entre os faróis da Barra e de Itapuã, sempre no mês de setembro. Essa combinação de fatores acaba refletindo positivamente na qualidade de minha função como servidor público, seja em âmbito interno, na relação com colegas e superiores, como também no atendimento à população”, diz o servidor que, entre outras conquistas, foi um dos representantes da Prefeitura no Revezamento da Tocha Olímpica dos Jogos Rio 2016.

Ele lembra que, em 35 anos, desempenhou funções importantes em dois órgãos que lidam diretamente com vidas humanas. “Me sinto um privilegiado por chegar aos 60 anos com a saúde em dia e trabalhando com alegria e ânimo renovados. Sou feliz como ser humano e funcionário público, sendo hoje uma referência para os colegas mais novos”, conclui Eugênio Souza.

Educando e resgatando vidas – As funções profissionais e pessoais da professora Josiana Rocha, atualmente gestora da Escola Municipal Marisa Baqueiro, no bairro de Saramandaia, se misturam de forma positiva quando se trata de resgatar vidas. Além de cuidar há 16 anos da formação de mais de 300 alunos do ensino fundamental e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), há 25 ela coordena, de forma voluntária, o Centro de Valorização da Vida (CVV) na capital baiana. O serviço oferece apoio emocional a pessoas em estado de depressão ou que apresentam risco iminente à vida e que podem culminar no suicídio.

Josiana assumiu a direção do colégio há nove anos, e, em conjunto com a equipe, precisou solucionar problemas de evasão, infraestrutura e até mesmo falta de confiança por parte da comunidade. À época, a unidade possuía um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 1 ponto. Hoje, esse número alcançou 5.1. “Eu sou muito afeita a desafios, e a experiência de assumir uma escola completamente desacreditada, onde faltava uma estrutura mínima para o exercício das atividades, realmente foi preciso matar um leão por dia para mudar essa realidade. Eu acredito que o servidor público pode fazer muito pela comunidade através de sua função, desde que possua determinação e coragem necessárias a enfrentar os problemas que surgem ao longo da jornada, e que não deixe de buscar novas portas para desenvolver o próprio trabalho. Portanto, levo daqui a certeza de que cumpri e continuo cumprindo meu papel” diz.

Ela acredita que essa dedicação ao serviço público tem muita influência no trabalho exercido no CVV. “Pelo menos no que diz respeito à disciplina, compromisso e responsabilidade as funções se equivalem. O fato de o trabalho ser voluntário ou por meio de um concurso não deve abrir brechas para alguém agir de forma individualizada, sem pensar no coletivo, descumprindo horários ou faltando com o compromisso. As duas atividades dependem de diálogo e amor, e ambos me concederam a oportunidade de superar desafios e gerir equipes, com pessoas diferentes, de hábitos e maneiras próprias de encarar as coisas e a própria vida. Tudo isso me ensinou a ter esse cuidado com a vida das pessoas”, completa.

Além do servidor – Longe daquela imagem clichê do funcionário público que bate o cartão de ponto, é criterioso apenas com horários pré-determinados e mantém uma rotina sossegada por conta das garantias inerentes ao trabalho de quem prestou e logrou êxito em concursos púbicos, há pessoas que tomam a dedicação à função como uma forma de aprendizado e fazem brotar nos demais colegas um desejo de crescimento e ampliação dos horizontes profissionais. Um exemplo disso ocorreu com a servidora Marli Borges, que trabalha há 32 anos na administração pública municipal, tendo exercido inúmeras funções em diferentes órgãos, mas sempre mantendo a dedicação e compromisso em primeiro lugar.

Marli começou a atividade profissional como servidora na extinta Empresa de Transportes Urbanos (Transur), no setor de Compras e, em seguida, no Almoxarifado, sendo a primeira mulher naquela função. “Como eu sempre desejei agregar conhecimento a tudo que eu faço, aceitei o desafio e até hoje sou vista entre os colegas como uma ‘organizadora de ambientes e pessoas’ nos locais onde trabalho. Sempre busquei fazer algo diferenciado, colaborar da melhor forma possível para que as tarefas naquele ambiente sejam exercidas da melhor forma possível”, diz a servidora.

Ela trabalhou ainda na Secretaria de Gestão (Semge), no setor de Projetos e, em seguida no Gabinete, onde permaneceu por nove anos, além do Núcleo de Tecnologia de Informática (NTI) e no Planejamento Estratégico. “Sempre estive em setores distintos, sendo reconhecida pelo compromisso e pela disciplina com a função. Vejo o serviço público como um grande aprendizado para a vida, um forte modelo de convivência e trabalho em equipe. Sempre procurei me capacitar e incentivo meus subordinados e demais colegas a fazer o mesmo. Dessa forma acredito estar contribuindo para desmistificar a visão errônea que se tem da função pública”, finaliza Marli que, há cinco anos, é chefe do setor de Protocolo da Controladoria Geral do Município (CGM).

Fator humano – Buscando aliar a atividade fiscalizadora, que cabe a todo agente de trânsito, com a missão de um educador e os ensinamentos aprendidos nas faculdades de Teologia e Filosofia, o agente Francisco Rabelo, da Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador) procura orientar seu trabalho a partir de um olhar humanizado, mesmo quando há necessidade de tomar atitudes enérgicas para coibir infrações e ajudar no ordenamento das vias da cidade. Há 11 anos como agente de trânsito, Rabelo exerce ainda o trabalho de professor de autoescola.

Para o agente de trânsito, lidar diariamente com contextos diferentes exige educação especial, tanto para o condutor como para o agente. “É preciso observar individualmente cada situação – excetuando-se casos de consenso como as leis -, indicando ao infrator a natureza de seus atos. Portanto, defendo em minha função o princípio do diálogo e de que é preciso sempre se colocar no lugar do outro, sempre observando o fator humano durante as abordagens, buscando incentivar o uso de gentileza e respeito entre os condutores, no que acredito ser um caminho para evitar inúmeros problemas de convivência pacífica que hoje enfrentamos”, afirma.

Ele ainda reflete que, apesar das leis, o que prevalece no trânsito é sempre o fator humano. “Não adianta possuirmos leis pesadas e custosas se eu não respeito o outro ser humano que dirige a meu lado. A multa é importante, a penalização faz parte da função, mas é preciso manter o respeito ao cidadão. Acredito que o problema central está no ser humano, e é ele que precisa ser trabalhado. Portanto busco levar essas ideias a todas as funções que exerço, tanto na formação do condutor como na cobrança posterior, por meio da fiscalização”, conclui Rabelo.