SMEC comemora 160 anos de Castro Alves

17 de mar de 2007 - dev

A Secretaria Municipal da Educação e Cultura (SMEC) comemorou o Dia Nacional da Poesia e o aniversário de 160 anos do maior poeta brasileiro, Castro Alves, em grande estilo. E como não poderia deixar de ser tudo regado a poesia. Poeta do Romantismo, foi autor de belíssimas obras, como o “Navio Negreiro” e “Espumas Flutuantes”. Sua arte era movida pelo amor e pela luta por liberdade e justiça.

Para relembrar o poeta maior, o ator Marcos Peralta fez uma grande performance na sacada do Solar Boa Vista, onde viveu Antonio Frederico de Castro Alves. Ele, que se veste como o Poeta dos Escravos há 6 anos, declamou diversas poesias, como Ode ao Dous de Julho, Espumas Flutuantes, Solar Boa Vista e O Livro e a América,

O ator, que estava caracterizado de Castro Alves, emocionou a todos que assistiram a sua apresentação. Na oportunidade, o secretário municipal de Educação e Cultura, Ney Campello, falou um pouco da biografia do poeta maior e da história do Solar Boa Vista. Segundo ele, o objetivo é fazer da residência de Castro Alves um museu, onde os visitantes conhecerão a sua vida e obra.

O evento contou com a participação dos alunos da Escola Maria Quitéria, que também declamaram poesias nas escadarias da SMEC. Houve também a participação dos estudantes da Escola Carlos Murion, que fizeram uma apresentação musical. Fizeram parte do evento, o grupo mirim de percussão Okan Bí e a fanfarra da Escola Municipal de Fazendas Coutos.

Ano Municipal da Leitura – Além das comemorações dos 160 anos de nascimento de Castro Alves, foi lançado na Câmara Municipal de Salvador o Comitê Gestor do Ano Municipal da Leitura, que tem como objetivo fiscalizar, propor e executar ações que fomentem a leítura, participar da elaboração do Plano Municipal de Incentivo à Leitura.

A Lei 7.097/ 2006, criada pela vereadora Olivia Santana, tem com finalidade estimular a consciência coletiva da cidade sobre a importância da leitura para o desenvolvimento intelectual da população.

Para o secretário Ney Campello é importante capacitar os professores da rede municipal de ensino para que eles incentivem aos seus alunos a se interessarem pela leitura e sintam o prazer de ler.

O comitê será composto pelo secretário municipal de Educação e Cultura, Ney Campello (presidente); o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Paulo Lima (secretário Executivo), representante da Comissão de Educação da Câmara Municipal, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (APLB), representante das Coordenações Regionais de Educação, representante do Ministério Público; setor de comunicação, dos pais e alunos, Associação Baiana de Imprensa, da sociedade civil, da Academia de Letras, Comissão de Educação do Poder, das Secretarias: Municipal e Estadual de Educação, Conselho Municipal de Educação e das universidades.

Confira a poesia de Castro Alves

O Livro e a América

Talhado para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
“Vai, Colombo, abre a cortina
“Da minha eterna oficina…
“Tira a América de lá”.

Molhado inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão…
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:
“Tudo marcha!… Ó grande Deus!
As cataratas — pra terra,
As estrelas — para os céus
Lá, do pólo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar…
Eu quero marchar com os ventos,
Corn os mundos… co”os
firmamentos!!!”
E Deus responde — “Marchar!”
>
“Marchar! … Mas como?… Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteon?…
Marchar co”a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo. . .
— Com as garras nas mãos do mundo,

— Com os dentes no coração?…
“Marchar!… Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?…
Não!… Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir…
Lá brada César morrendo:
“No pugilato tremendo
“Quem sempre vence é o porvir!”

Filhos do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo…
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade vooul…

Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec”lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou…
O Genovês salta os mares…
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou…

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber…
Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo n”alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.

Vós, que o templo das idéias
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse “rei dos ventos”
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz! …

Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão! …
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada “Luz!” o Novo Mundo
Num brado de Briaréu…
Luz! pois, no vale e na serra…
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!…