25 de Julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Municipal da Mulher Negra

25 de jul de 2021 - Jornalismo

Próximo dia 29, às 15h, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o Fundo Municipal de Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (Fiema) realizará uma live para comemorar a data que também celebra o Dia Nacional da Mulher Negra Tereza de Benguela e Dia Municipal da Mulher Negra. O evento será transmitido pelo canal do Youtube da Secretaria Municipal da Educação (Smed) e abordará a temática Empoderamento Feminino e os Desafios das Mulheres. Na oportunidade ocorrerá a premiação das 10 Mulheres Destaques da Secretaria Municipal da Educação (Smed).

Mulheres que serão homenageadas: Ana Portela (jornalista), Marivalda Arcanjo (Copa/Mary), Ismênia Leandro (técnica da Coordenadoria de Alimentação Escolar), Clenilza de Melo Muniz (setor de Bolsa Família), Ayala Portela (nutricionista), Thais Cardoso (nutricionista), Edmeire do Rosário (técnica do Fiema), Gleice Célia Alves Pinto (professora), Tanimar Pina (técnica da matrícula) e Bárbara Caroline Pinheiro dos Santos, mãe de aluno da Escola Municipal Soror Joana Angélica.

A palestrante convidada é Lara Oliveyrah, turismóloga, professora e produtora cultural, organizadora do livro Ecoa Mulheres – A força do feminino através das palavras, uma  coletânea que reúne textos e reflexões de 41 mulheres ativistas. Nessa obra constam dois poemas da gestora do Fiema Rita Sales, um em homenagem à sua mãe e outro que retrata a força da mulher negra e a elevação social através da educação.

Feliz por ter suas produções publicadas num livro, Rita Sales diz que se sente realizada em poder expressar a luta e a força da mulher de forma poética. “Ser mulher não é fácil, enfrentamos muitos desafios e as nossas conquistas devem ser celebradas. Para as mulheres negras conquistarem seu espaço, os desafios são maiores, pois além da discriminação por conta do gênero, enfrentamos o preconceito racial. Precisamos acreditar em nosso potencial!”, afirma.

Empreendedorismo e empoderamento são elementos que a mulher negra sempre teve como parâmetro, desde a constituição da cidade do Salvador. As mulheres negras que vendiam os quitutes pelas ruas da cidade, já eram um modelo de empreender. De acordo com Eliane Boa Morte, idealizadora e coordenadora do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Étnico-Raciais (Nuper) da Smed, é importante falar desse empreendendorismo que não era apenas para alimentar a família, mas utilizado também para alforriar outras pessoas escravizadas.

“Era um comércio individual que também pensava no coletivo. Isso pra mim é importante quando a gente pensa na questão do empoderamento, uma palavra muito ouvida, mas que vai além desse estar na sociedade de uma forma diferenciada. Acho que precisamos perceber o quanto essas mulheres ao longo da história da construção da sociedade brasileira e soteropolitana, puderam conservar valores, culturas, religiosidades, histórias e memórias. É imprescindível que a gente perceba o quanto as mulheres negras foram e são importantes na sociedade”, avalia Eliane Boa Morte.

Luta contra a opressão de gênero

O Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha é celebrado no dia 25 de julho, a data foi Instituída em 1992 no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana. O evento surgiu com a proposta de dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo. No Brasil, a data homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo de luta e resistência do povo negro.

As mulheres negras são historicamente o grupo social mais prejudicado no Brasil. Segundo dados do IBGE 63% das famílias brasileiras chefiadas por mulheres negras vivem abaixo da linha da pobreza. “Mesmo tendo companheiros, se elas não chefiam o grupo, pelo menos ajudam e muito na manutenção da casa, na união da família. Precisamos refletir e conhecer o quanto essas mulheres negras empreendedoras e empoderadas conseguiram atravessar a história da construção da cidade e como se mantém até hoje”, destaca Eliane.

Segundo Noliene Silva de Oliveira, mestra em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras (Uneb), Pós-graduanda em História e Cultura Afro-brasileira e Metodologias – FACIBA/Fund. Visconde de Cairu, a instabilidade econômica aguçada pela pandemia da COVID-19 vem reafirmar a posição abissal existente no empreendedorismo negro, entre mulheres. Sejam elas autônomas, microempreendedoras, sócio-proprietárias, gerentes, em cargos de diretoria, ainda necessitam gestar mecanismos e estratégias para manutenção do seu status.

“Elas já compreendem – até por serem mais cobradas socialmente, por serem mulheres e negras (formada de pretas e pardas) – que além de “vender” precisam agregar valor, expandir como e-commerce, ter conhecimento dos processos históricos civilizatórios da construção do país e das políticas das ações afirmativas para que entendam os processos de discriminação e desvalorização atuantes neste âmbito”, ressalta Noliene.

Mas como virar a chave de uma mulher negra que entrou no empreendedorismo por necessidade? Que não tem dinheiro para investir? Noliene explica que a abertura de crédito para empreendedoras negras é importante. Pois esse elemento vai permitir alavancar a amplitude dos negócios. “Se faz importantíssimo compreender o contexto sócio-histórico que abarca a população negra na sociedade soteropolitana e brasileira de modo que as interfaces do envolvimento/reconhecimento seja direcionando à orientação educacional dos atores construtores do empreendedorismo feminista negro”.

Fazendo um recorte na cidade de Salvador, Adalice Maria Azevedo Santana, técnica pedagógica da Smed analisa que um dos fatores que explica o abismo no empreendedorismo entre mulheres negras e brancas é que a população negra entra mais cedo no mercado de trabalho e é obrigada a permanecer nele por mais tempo. “Pela necessidade de baixo nível de rendimento da família, entra mais cedo nas vagas de trabalho disponíveis sem exigência de um grau de escolarização, para ajudar no sustento do lar, com isso muitas dessas pessoas desistem dos estudos e se mantém em trabalhos com baixos salários, ocupações alternativas de subsistência como autônomos, serviços domésticos, que desestimulam ações que possam desenvolver/ocupar independência econômica”.