“Ainda vivemos o 14 de maio de 1.888” é tema de palestra de Eliane Boa Morte para trios gestores da GRE Liberdade e Cidade Baixa

18 de maio de 2021 - Jornalismo

“Ainda vivemos o 14 de maio de 1.888”. Esse foi o tema da palestra ministrada na sexta-feira (14) pela coordenadora do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Étnico-Raciais (Nuper), Eliane Boa Morte, da Secretaria Municipal da Educação (Smed), para os trios gestores da Gerência Regional Liberdade/Cidade Baixa. Aproveitando o ensejo da data, a palestrante abordou um dos aspectos relativos à abolição da escravatura, em 13 de maio, que foi o dia seguinte, quando a liberdade chegou por lei aos negros escravizados, mas sem nenhuma medida de acolhimento, de reparação e de direitos dos libertos, tais como trabalho assalariado, educação, moradia, saúde etc. “Os negros foram abandonados, entregues à própria sorte, à marginalização, a condições precárias de vida e sobrevivência”, destaca a professora. “Passaram-se 133 anos e como está a população negra hoje?”, questiona. “A escravidão é uma dor vivida até agora”.

Mestre em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Eliane Boa Morte aprofundou o tema utilizando trechos da música 14 de Maio, de Lazzo Matumbi e Jorge Portugal. Por exemplo, na estrofe que diz “Sem nome, sem identidade, sem fotografia. O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver”, ela trouxe ao debate a construção da identidade negra e como a educação deve ser atuante nesse aspecto.

“Cabe a nós, da educação, dar subsídios aos nossos alunos e alunas para eles e elas saibam quem são. É importante levar às salas de aula aspectos ligados à ancestralidade, ao legado legado africano. Quem eram nossos ancestrais escravizados? Eram pessoas livres, que tinham conhecimento nas mais diversas áreas, tinham seus ofícios, dominavam saberes da natureza, a mineração, pecuária, a extração e manejo do ferro, bronze e ouro. É imprescindível que se fale desse legado, de uma identidade que ainda é ocultada, uma história essencial para o empoderamento, para a construção de uma identidade positivada”, frisa Eliane. Segundo ela, é preciso mostrar os grandes nomes negros da história, mas também trazer os atos de heroismo do cotidiano para perto das crianças, promover a admiração por pessoas, como as mulheres negras dos bairros periféricos, que sobrevivem ao racismo diariamente. “E, por outro lado, mostrar às famílias que as escolas as valorizam”.

Para a coordenadora do Nuper, o trabalho de conscientização é permanente e deve ser cotidiano. “É uma temática que não se esgotou, pelo contrário, necessita ainda de ser pautada diariamente nas mais diversas frentes, como o combate ao racismo, a conscientização para o antiracismo, a recuperação e valorização da história do povo negro, o empoderamento”, diz. Eliane faz um alerta sobre a importância desse trabalho nas escolas, inclusive, em atendimento à Lei nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre História da África e Cultura Afro-Brasileira nas unidades de ensino brasileira. “E esse é um trabalho para o ano todo, com aplicação interdisciplinar. Não é um desfile no dia 20 de novembro e pronto. Temos que fazer essa lei ser implementada de fato, não basta assinar uma lei que está tudo resolvido”, critica.

Ela ressalta que em todos esses trabalhos o trio gestor é fundamental. “Através de ações e da discussão coletiva, promover a construção de uma escola que valorize essas temáticas. E ver nas crianças, adolescentes, jovens e adultos a segurança e a altivez próprias de quem sabe quem é”, encerrou, citando o trecho da música de Lazzo e Portugal que diz “Eu sou o que sou, pois agora eu sei quem sou eu”, este é o verdadeiro empoderamento.