Alunos com deficiência da Escola Municipal Teodoro Sampaio são protagonistas da mostra fotográfica ConVivência de Boa

23 de dez de 2021 - Jornalismo

Respeito, inclusão, aceitação, visibilidade e amor próprio são sentimentos trabalhados com os alunos da Escola Municipal Teodoro Sampaio, situada na Santa Cruz (GRE Orla). O projeto, que ocorre anualmente desde 2016, tem como ponto alto a exposição Beleza Plural que traz fotos dos alunos para tratar do tema representatividade. Neste ano, a mostra recebeu o título “ConVivência de Boa” e  focou, principalmente, em alunos com deficiência (baixa visão, autismo, síndromes de Down e de Moebius). A exposição está em cartaz no auditório da unidade escolar até sexta-feira (17) e as visitas de alunos, familiares e comunidade podem ocorrer das 8h às 21h.

De acordo com Ana Claudia Nepomuceno, vice-gestora do turno matutino, a ideia do projeto surgiu a partir de discussões em sala de aula sobre temas como discriminação racial e social, aceitação, inclusão, visibilidade, entre outros. No desenrolar dos trabalhos nesses cinco anos é clara uma mudança nas percepções dos alunos. Segundo ela, neste ano, por exemplo, alguns estudantes que não se sentiram à vontade para serem fotografados em outras edições, fizeram questão de participar do trabalho neste ano. “Um dos pontos que trabalhamos é a desconstrução do racismo estrutural, que leva a pessoa a não se enxergar sua beleza, inteligência, habilidades. Infelizmente, vivemos em uma sociedade ainda racista e é necessário provocar neles uma outra reflexão sobre si mesmos, através das fotos de outros alunos, pois eles têm que ser protagonistas desse momento, daí a vontade de muitos em participar foi maior esse ano”.

Ana Cláudia contou ainda que nos anos anteriores convidou outros fotógrafos para realizarem as fotos e foi muito interessante para os estudantes conhecerem o mundo da fotografia e saírem dos muros da escola, além de começarem a se olhar com mais carinho e aceitação. “Eu convidei a princípio Erike Oliveira um amigo, que é fotógrafo profissional, para nossa segunda edição e a gente teve a ideia de ir para o Parque da Cidade que fica no entorno da Escola. Assim, saímos dos muros da unidade a partir da concepção de que a cidade toda tem que educar.  Eles também foram vendo a parte técnica: o ajuste de luz, as poses, entre outros. Aquela exposição foi sobre a Beleza Plural, para valorizar o cabelo afro, vimos que depois da mostra várias meninas começaram a fazer a transição capilar. Foi muito importante pra gente a aceitação e respeito com a própria imagem deles”.

A exposição saiu da escola e percorreu o bairro, incentivando muita gente a se reconhecer nas fotos dos alunos. “Conseguimos levar para o posto de saúde onde as pessoas viam e diziam: eu também poderia estar aí.  Levamos à Ceasinha do Rio Vermelho também com a parceria de Gil Deleon, líder comunitário daqui que faleceu recentemente. As pessoas que trabalham lá, geralmente, moram na região da Santa Cruz, Vale das Pedrinhas, Nordeste de Amaralina, elas se viram nas fotos dos alunos e esse efeito multiplicador foi fantástico”.

Em 2021, um ex-aluno foi convidado para fazer o ensaio fotográfico, Cristhian Anjos. Ele conta com alegria a emoção que sentiu ao fazer as fotos dos alunos com deficiência. “Foi uma experiência boa que eu, como fotógrafo, nunca passei. Eu acompanho há tempo esse trabalho, pois sou ex-aluno da escola. Amei receber esse convite, chorei bastante pelas fotos que tirei e vi aqui a inclusão social dos alunos, das amigas e amigos que eles têm e o carinho que recebem. Eles são lindos, sentem-se à vontade com as poses e transmitem energia positiva através das fotos. Foi muito além das lentes”, disse.

A aluna do 6º ano Gabrielle Cruz de Almeida, 15, que tem Síndrome de Down, achou-se ainda mais linda nas fotos. “Eu gostei muito, eu sou a mais linda da internet. Eu sou linda e todos os meus amigos também”. Tímido, o pequeno Isaque dos Santos Carmo, 12, esboçou um sorrisão e contou para pró que na instituição que ele frequenta, todos disseram que agora ele era um modelo. “Gostei muito, me senti realizado e gostei de me ver nas fotos”.

Ana Cláudia ressaltou a importância desse projeto e de como tem impactado na vida dos estudantes. “A exposição é isso, é mostrar e promover essa convivência harmoniosa entre os alunos da escola, entendendo as limitações do outro e também as próprias limitações e se vendo dessa forma bonita, de valorizar a si mesmo. O retorno desse trabalho é maravilhoso. Eu tenho um aluno com baixa visão que me disse: professora continue neste trajeto -, com as palavras dele, do jeitinho dele. Assim, sabemos que estamos no rumo certo e ficamos felizes por isso”.