Já pensou se a história do nascimento de Jesus Cristo se passasse no Sertão Nordestino? Qual seria a trilha sonora? Quem esteve na última quinta-feira (12), no Teatro Boca de Brasa que fica no Subúrbio 360, no bairro de Coutos, teve uma noção exata sobre isso, a partir de um espetáculo teatral com muita música e dança, encenado pelos alunos da Escola Municipal Graciliano Ramos. A peça é uma releitura da celebração do Natal que ocorre na zona rural no Município de Serrinha, distante 175 km de Salvador e que foi trazida em 2008 para algumas escolas da capital baiana pela professora e pesquisadora, Lydia Hortélio.
A ação teve início quando a gestora Margarete Cristina Santos ainda estava na direção da Escola Municipal Cid Passos. Quando passou a gerir a Graciliano Ramos, deu segmento ao projeto. “É uma emoção múltipla, pois este é um sonho que trouxe da Cid Passos e desde 2013 fazemos aqui. Então, cada ano a gente se emociona mais, vemos os meninos completamente envolvidos e empolgados, assim como as famílias, que comparecem em peso para prestigiá-los. Por isso, nos sentimos imensamente felizes e com a sensação de dever cumprido”, destaca.
Sob a coordenação da professora de educação física, Everli Nascimento os estudantes começaram os ensaios no mês de outubro, nos horários da aula da docente, que explica a motivação para o tema deste ano. “Todos os anos nós buscamos trabalhar a história do nascimento de Jesus Cristo sob várias vertentes. Este ano, nossa intenção foi homenagear o nordeste, pois realizamos diversos projetos em sala de aula e queríamos que a culminância seguisse a mesma linha, com arte, dança e música que remetessem ao Sertão”.
Alguns alunos integram parte do elenco principal, que fazem as cenas links entre as alas de dança, compostas por alunos de todas as turmas. Os alunos do Grupo 5, interpretaram os anjinhos, que anunciaram a chegada de Jesus Cristo, ao som da música “Anunciação”, de Geraldo Azevedo cantada nas vozes do “Mundo Bita”, enquanto os estudantes do primeiro ano se apresentaram como os animais do estábulo, ao som da música “Seresta do Nascimento”.
As crianças do segundo ano, por sua vez, interpretaram uma congada (tipo de dança dramática que representa a coroação de um rei ou rainha do Congo) ao som de “Tá caindo Flor” do grupo Casa de Farinha, o terceiro ano simbolizou os retirantes nordestinos em referência à viagem de Maria e José à Belém, com a música “Vida de viajante”, enquanto o quarto ano representou os cangaceiros e, ao mesmo tempo pastores, que foram visitar o Deus Menino, tendo como música de fundo a música “Xaxado”. O quinto ano fez o fechamento da apresentação, ao som de “Baião”, três canções do inesquecível Luiz Gonzaga.
Houve ainda apresentações de ginástica rítmica. A primeira simbolizando a Folia de Reis, com apresentação das alunas Soraia Oliveira, Karine e Karen Santina (irmãs), ao som de “Folia de Reis”, de Maria Betânia e a aluna Ana Vitória Silva de Jesus, ao interpretar a estrela que anunciou a chegada de Jesus, fez o seu número ao som da música “Como alcançar uma estrela”, do Trio Nordestino. Para finalizar a apresentação, houve a junção de todas as alas, que cantaram a música “Disparada” de Jair Rodrigues, na voz do cantor Daniel e “Natal Nordestino”, de Eliezer Setton.
Os ensaios aconteceram majoritariamente nas aulas de educação física, mas houve ainda o apoio do professor de teatro Diego Santana Vale, que cobriu a licença maternidade da docente Laline França, ensaiando com os meninos do terceiro e do quinto ano. Segundo ele, o processo foi árduo, mas prazeroso. “Trabalhar com crianças na pré-adolescência é saber que vamos precisar lidar com muita energia o tempo todo. Eu trabalho muito com o coletivo, então todos acabam se ajudando durante o processo. Fiquei muito feliz com o que vi aqui, com o nosso resultado, mas ao mesmo tempo, já estou saudoso”, considera.
Mas engana-se quem pensa que a professora Laline França ficou de fora das apresentações. Mesmo não participando do processo de criação do espetáculo, ela interpretou Maria e a filha Malu França Santiago, de apenas 4 meses, fez o papel do menino Jesus. “Foi muito emocionante estar no palco com minha filha fazendo o papel de Jesus, fiquei com meu coração cheio de alegria. Além disso, este é o fechamento de um ciclo, após quatro anos de realização deste projeto, o meu contrato com a Rede Municipal de ensino está terminando e já fica o gostinho de saudade, pois sou muito grata ao Graciliano Ramos por tudo o que me proporcionou. Então foi difícil conter as lágrimas”, finaliza.