Escola Municipal Governador Roberto Santos desenvolve projeto de incentivo à leitura de obras com temática étnico-racial

09 de fev de 2021 - Jornalismo

A Escola Municipal Governador Roberto Santos (GRE Cabula), localizada no Cabula, está realizando o concurso literário Escrevivências Negras. O edital foi lançado em janeiro com inscrição exclusiva aos alunos da instituição. A iniciativa visa incentivar a leitura de obras literárias e não literárias com a temática étnico-racial previamente selecionadas pela comunidade escolar, com livros de autores negros e não negros. O objetivo é formar leitores críticos no combate aos preconceitos raciais que ainda se mantêm presentes em nosso país. Os trabalhos selecionados serão publicados nas redes sociais da escola até o dia 28 de fevereiro.

Serão eleitos três vencedores, que receberão destaque com as premiações para o 1º colocado de 10 obras literárias + 1 Kit Escolar+ 1 brinde surpresa; o 2º colocado: 5 obras literárias + 1 Kit Escolar+ 1 brinde surpresa e o 3º colocado: 5 obras literárias + 1 Kit Escolar.

LIVES – A equipe organizadora ainda está realizando lives toda sexta-feira, quando os professores e alunos falam sobre as obras literárias. “Essa nova organização social acaba influenciando diretamente na construção de uma nova cultura educacional escolar a partir de inovadoras e criativas metodologias. Assim, essa nova conjuntura, articulada ao desejo de valorizar e trabalhar com obras dos diversos gêneros textuais de autores (as) negros (as), que escrevem sobre temáticas importantes como identidade, racismo e desigualdades raciais, resultou neste projeto que colocamos em prática”, disse Patrícia Almeida Moura, diretora da escola.

Ela ainda ressaltou a importância de cumprir e incentivar a proposta educacional que fala sobre a temática racial. “Nesse sentido, o tema proposto também foi pensado como estratégia educativa para pôr em prática a Lei 10.639/03, que é tornar obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas e que ainda se configura como um grande desafio de implementação considerando a realidade da educação no Brasil”, destaca.

O concurso se dará em 3 (três) etapas: inscrição (já encerradas), produção escrita e ilustração e para tanto, serão utilizadas obras do gênero narrativo, as quais irão ser disponibilizadas em PDF para todos os estudantes do Ensino Fundamental II (6º, 7º, 8º e 9º ano). São obras de diversos gêneros e autores, como: Cabelo bom é o quê? Rodrigo Goecks; Contos africanos para crianças brasileiras, de Rogério Andrade Barbosa; Pedra de Nzazi, Xangô e Sogbo? de Maria Alice Silva e Walter Passos, entre outros. Após a leitura dos livros, os alunos produzirão cartas para os autores das obras e um reconto em forma de ilustração.

INCENTIVO – Os professores que estiveram empenhados na elaboração do projeto fizeram vídeos incentivando os alunos a participarem do concurso. Foi o caso do professor de Geografia, Leandro Pessoa, que está empolgado com o desenvolvimento dos estudantes nessa nova atividade. De acordo com ele, o concurso literário está sendo muito importante para a aprendizagem remota dos alunos, pois exercita a autonomia das habilidades e dos compromissos com o aprender mesmo nesse tempo de ausência do espaço físico da escola. “Eles tiveram acesso às obras de diversos e importantes escritoras e escritores negros, inclusive de autores contemporâneos como o baiano vencedor do último prêmio Jabuti, Itamar Vieira Junior. A partir da experiência leitora, as histórias contribuem para os estudantes compreenderem cada vez mais, a sociedade, o mundo, o país, e a cidade onde vivem. Pedagogicamente o concurso é radicalmente transversal é uma proposta revigorante nesses tempos de distanciamento”, enfatizou Pessoa.

A professora Julice Vieira de Jesus, também idealizadora do projeto confessou que as expectativas são as melhores possíveis. “Essa temática surgiu como oportunidade de trabalharmos o Novembro Negro, mas entramos de férias no ano passado devido ao isolamento social que vivemos, mas mesmo assim, mantivemos a proposta, pela relevância e a crescente discussão na atualidade. Acredito que os alunos devam tomar gosto pela leitura de autores negros e não negros com histórias que retratam muitas de suas vivências cotidianas”, ressaltou.

A aluna Suamy Fernanda Nascimento Carvalho, 14, estudante do 9° ano, relata que já tinha lido um dos livros selecionados para o concurso e resolveu fazer o trabalho, para entender melhor a história. “Pra mim esse concurso está sendo ótimo primeiro porque eu finalmente entendi a história do livro que escolhi, pois aos 5 anos de idade eu li e não tinha compreendido, depois eu nunca imaginei escrever uma carta para um autor de livro, achei ótimo e também apreciei a presença da arte nesse concurso que é muito importante. Essa é uma das melhores formas de mostrar ao mundo que a cor da pele, o estilo do cabelo e a nacionalidade precisam ser respeitadas. Estou muito feliz de estar participando desse projeto”.

Para Maria Julia Sousa Brito de Jesus, 15, também aluna do Robertinho, um aspecto essencial do projeto é dar visibilidade aos livros que falam da literatura africana. “Eu acho esse trabalho de extrema importância social, ele dá voz à um povo deixado sem reparação, que aos pouquinhos estão encontrando o seu lugar na sociedade. Um projeto que aborda o povo negro é incrível demais, mesmo a gente não estando num patamar de igualdade, mas estamos numa luta contínua para conquistarmos isso, e projetos como esse são como combustível, ainda mais nesse período de distanciamento que estamos passando”.