Formação de cidadãos é objetivo de curso para professores

04 de abr de 2008 - dev

“Os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprendem a ler e não lêem”. A frase de Mário Quintana reflete bem os índices brasileiros de analfabetos funcionais – aqueles que sabem ler e escrever mas que apresentam dificuldade em interpretar textos.

A Prefeitura, através da Secretaria Municipal da Educação e Cultura, em parceria com o Instituto de Responsabilidade e Investimento Social (Instituto IRIS), com o objetivo de mudar este cenário através do incentivo à leitura nas salas de aula, deu início ao curso de capacitação em mediadores de leitura, ministrado para professores de 184 escolas da rede municipal. Com a aplicação das técnicas desenvolvidas pelo Instituto IRIS nas salas de aula, o programa deve contribuir de forma decisiva na formação intelectual dos estudantes.

Para o professor Adilton Costa, da Escola Municipal Comunitária de Canabrava, é papel dos profissionais da educação estimular a leitura prazerosa nas salas de aula, porque somente dessa forma é possível formar cidadãos. “As histórias dos personagens estimulam os estudantes a refletirem sobre suas vidas e sair da consciência ingênua para a consciência crítica, que é o que nós mais desejamos. A leitura possibilita uma compreensão melhor de si mesmo e dos outros também, fazendo com que o indivíduo saiba viver melhor no grupo social e no mundo como um todo”, explica. “O curso é ótimo. Está atendendo às minhas expectativas. A Prefeitura está de parabéns pela iniciativa”, completa.

A capacitação formará professores leitores multiplicadores capazes de incluir na pedagogia escolar a prática da leitura, incentivando não só os alunos como também novos professores. Com a iniciativa espera-se a melhoria do desempenho dos educadores em sala de aula e a ampliação do repertório de leitor do aluno.

De acordo com a professora Valda França, da Escola Municipal Engenheiro Gilberto Pires Marinho, “o curso está sendo maravilhoso”: “Sempre acreditei na leitura com prazer, na leitura lúdica, que pode transformar, e muito. A sala de aula é o local onde a transformação social é possível. Essa oportunidade que estamos tendo, de levar para os alunos, contos, poesias e histórias, de forma prazerosa, tornará mais fácil essa transformação social”.

Representante da Escola Municipal Professor Milton Santos, a professora Terezinha de Oliveira concorda com a colega: “Esse curso foi uma maneira que a Secretaria encontrou de amenizar o problema da falta de leitura. Dentro das salas de aula, os estudantes estão acostumados com a leitura escolarizada, aquela forçada. É ler para responder. Temos que estimular a leitura prazerosa, feita de forma voluntária. Tenho grandes expectativas quanto ao curso”.

Estímulo

Estudantes da rede municipal de ensino confirmam que, quando estimulados corretamente, desenvolvem o gosto pela leitura e criam expectativas maiores e melhores para o próprio futuro. Taís Magalhães (9) afirma que é a aluna mais aplicada da sala: “Leio bastante em casa porque minha mãe e meu pai estimulam minha leitura, mas eu nem espero eles mandarem eu ler. Acho importante a leitura porque me dá mais conhecimento sobre as coisas do mundo, posso ficar mais informada e porque eu quero ser médica”, explica.

Felipe da Silva (9) também diz que lê por prazer: “Quando estou em casa sem fazer nada sempre peço uma revista ou um livro para minha mãe. Não leio mais porque não tenho muitos livros em casa, mas aqui na escola aproveito a sala de leitura para ler um a cada dia. Gosto de livros que falam sobre outros povos, sobre a África e a história do nosso país. Leio porque me ensina a abrir a cabeça e aprendo as letras. Gosto também de escrever historinhas que eu invento sobre meus coleguinhas e sobre mim”. Curioso, Thiago Miranda (10) despertou para a leitura através das figuras: “Achei interessante a capa de um livro, porque tinha o desenho de um leão e de um rato, e eu queria saber o que eles iam aprontar”.

Já Vítor Santos (7) e Wagner Sales (9) são taxativos quando o assunto é leitura. “Não gosto de ler porque cansa os olhos e a mão. Sempre finjo que estou lendo. Ao invés de fazer o dever eu pulo para a última página e a professora depois briga comigo porque eu enganei ela”, diz Vítor. Wagner gosta mesmo é de assistir televisão: “Penso que pela televisão posso saber tudo que acontece no mundo. Eu não gosto de ler. Estudo pela manhã e brinco na rua a tarde toda. Odeio aula de banca, mas sou obrigado a ir.”

De acordo com o secretário da Educação e Cultura, Carlos Soares, somente fazendo educação com amor é possível reverter a situação em que se encontra o País: “Não vamos descansar enquanto não pudermos oferecer as ferramentas para que nossos estudantes possam ter um futuro digno”.

O Projeto tem duração de sete meses. Durante esse período, 19 escolas da rede municipal de ensino terão acompanhamento semanal do Instituto IRIS, para reforçar a prática do incentivo à leitura na sala de aula. O grupo de professores participantes atingirá diretamente mais de 11 mil estudantes do Ciclo de Aprendizagem II (antigas 3ª e 4ª séries), com idades entre nove e 14 anos. Com a finalização do curso e multiplicação dentro das escolas para outros docentes, o programa deverá beneficiar, até o final do ano, aproximadamente 85 mil alunos das instituições de ensino municipais de Salvador.