Professores e comunicadores discutem os desafios das videoaulas em mais um encontro do Webinário Nossa Rede

15 de dez de 2020 - Jornalismo

“Aulas na TV: Uma experiência desafiadora”. Este foi o tema do Webinário Nossa Rede, realizado na última sexta-feira (11), pela Secretaria Municipal da Educação (Smed) em seu canal no Youtube. Parte do ciclo de formação pedagógica, o encontro contou com as participações do Gerente de Jornalismo da TV Aratu, Matheus Carvalho; do Comunicador, educador, cantor e escritor, Matheus Boa Sorte; bem como de Carolina Silva, professora do segmento Educação de Jovens e Adultos (EJA /TAP IV) e da docente Mara Antônia Lima Gomes, do Ensino Fundamental – Anos Finais.

Aberto e conduzido pela coordenadora pedagógica do Educação de Jovens e Adultos (EJA), Verônica Santana, a transmissão teve como objetivo central fazer um balanço sobre as videoaulas que são veiculadas em canal aberto – TV Aratu- para os alunos da rede municipal de ensino, através do “Programa Nossa Rede na TV”. Os conteúdos escolares são transmitidos em dois multicanais digitais próprios (4.2 e 4.3), com horário estabelecido para cada segmento: Ensino Fundamental II (do 6º ao 9º ano) e Educação de Jovens e Adultos – EJA II.

São aulas de língua portuguesa, matemática, língua estrangeira, geografia, ciências, artes, história e educação física, ministradas pelos professores da Rede Municipal, seguindo o programa pedagógico próprio de Salvador, o Nossa Rede. Matheus Carvalho, gerente de jornalismo da TV Aratu, iniciou o Webinário falando sobre os desafios iniciais do projeto. “Quando tudo começou, foi uma grande novidade para todos da Secretaria, mas também para a TV Aratu. Estávamos acostumados a produzir 6h de conteúdo local por dia, fora o final de semana e conteúdos especiais. Em duas semanas, a emissora passou a contar com três canais e passamos a produzir 26h de conteúdo por dia. Ou seja, em duas semanas, criamos o equivalente a duas novas emissoras de televisão, com conteúdo exclusivo, totalmente produzido por nós”, destaca.

O comunicador também ressaltou como a iniciativa foi desafiadora também para os professores da Rede Municipal, que tiveram se adequar ao fato de estarem longe da sala de aula e dos alunos. “Os professores encararam com muita coragem este desafio. Falar ininterruptamente para uma câmera é completamente diferente de falar para um público real, tendo a vibrante troca de energia com os alunos. Uma aula de 30 minutos sem os estudantes é ter que descobrir uma forma encantadora de passar os conteúdos, já que para os alunos a experiência também era completamente nova. Esse projeto de Salvador é referência nacional”.

Para a professora Mara Antônia Lima Gomes, do Ensino Fundamental – Anos Finais, a maior dificuldade foi encontrar o caminho para construir aulas remotas de modo que o processo de ensino aprendizagem ocorresse, já que professor e aluno estão em espaços diferentes, minimizando, assim, os prejuízos pedagógicos. “Este ano trabalhei com alunos do sexto ano e construí minhas aulas observando a linguagem, já que na tv, a notação gráfica e sonora, áudio e vídeo enriquecem a interação. Outra preocupação foi em entender como está esse aluno do outro lado: estariam sozinhos ou sob a supervisão de um adulto? Enfim, meu principal proposito foi estimular, nos 30 minutos de aula, a cabeça do aluno”.

A docente listou ainda alguns dos recursos que utilizou para ajudar os estudantes a internalizar ainda mais a compreensão. “Textos intercalados com imagem, desafios respondidos na aula ou na aula invertida, animações, além de questões abertas e fechadas, para ajudar na fixação dos conteúdos da melhor forma possível. Não tem nada melhor do que proporcionar o aprendizado para o nosso alunado, que já é tão carente”, pontua.

Carolina Silva, professora do segmento Educação de Jovens e Adultos (EJA /TAP IV) também falou sobre a sua prática pedagógica voltada especificamente para este público. Segundo ela, a palavra que norteia a EJA é acolhimento. “Sabemos que o desafio é criar mecanismos para este aluno não evadir, mas para isso, precisamos acolher. Com todas as dificuldades iniciais, principalmente para gravar sem interrupção, pensei em desistir, mas pensar nos alunos me fez continuar. Com o passar do tempo, fui encontrando um jeito de fazer as gravações de forma natural, ensaiando em casa, adequando o conteúdo para ajustar nos 30 minutos, e o apoio da equipe de gravação foi fundamental”, elogia.

A professora destaca ainda a importância de ter o retorno para saber como o conteúdo está atingindo os alunos e enfatiza o importante papel das redes sociais. “Criamos uma hashtag para os alunos fazerem as atividades e colocarem essa postagem com a marcação para os professores mensurarem a quantidade de alunos que estão realizando a atividade. Além disso, foi criada uma página no facebook para eles responderem as atividades e tirar dúvidas. Essa realidade é difícil, mas todas as escolas se movimentaram para que não houvesse um abandono por parte dos alunos. Agradeço a oportunidade, pois se trabalhar com EJA já é desafiador pessoalmente, de forma remota é ainda mais”.

Ao final do Webinário, o comunicador, educador, cantor e escritor, Matheus Boa Sorte, falou um pouco sobre a arte de contar histórias. “Sair da sala de aula falando presencialmente com os alunos e ir para a tv é imensamente difícil. Comecei minha carreira na tv aos 19 anos, hoje estou com 28, mas este ano tive que participar de telejornais e mesmo pra mim, que caminho a tanto tempo nessa área, não deixa de ser desafiador. Se eu puder dar um conselho para os professores, eu digo: exercitem o hábito de contar histórias, principalmente as da vida real, de gente como a gente. A comunicação doa feto dá sempre um resultado sublime, fantástico ”.

Para finalizar, recitou uma poesia, em homenagem aos professores que participam do “Programa Nossa Rede na TV”.

“Eu vim do interior”

Eu vim do interior e carrego em mim orgulho e amor de ter nascido onde eu nasci
Aprendi que por ser sertanejo tenho meu próprio traquejo
E um jeito de ser que matutamente confesso não sei de lampejo
Pois ser do sertão, como já disse no outro verso
É um dom divino tão grande, quase que do tamanho do universo
E ao invés do que pensam, de onde eu vim felicidade é sobrenome
Um bom sorriso nos consome
E não é por falta de fé e força
Que alguns infelizmente ainda vivem com fome
A agua por lá é pouca e isso todo mundo sabe
Mas a gente não deixa que acabe, pois desde muito pequeno, aprendemos a economizar
Vovó vivia a me falar que nunca viu menino novo morer por labutar
Que era “mió” segurar no cabo da enxada, do que viver na rua a vadiar
E assim eu fui crescendo, sem deixar de estudar
Sabendo que pra ir em frente, nem sempre é ruim ter que voltar.
Mas n se pode “deslembrar” da fé em nosso deus, de todo dia agradecer.
Pois na cabeça, pra onde quer que a gente for, é a humildade e o amor que faz qualquer semente florescer.

Para conferir o webinário na íntegra, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=EOoYzycJ2Jk