Projeto da Escola Municipal Consul Schindler discute valorização do negro em Salvador

22 de ago de 2018 - Jornalismo

Aulas, palestras, artes e debates. É dessa forma que o projeto “Rei e Rainha Azeviche” discute, há sete anos, preconceito, estereótipo, autoestima e posição do negro na sociedade soteropolitana e brasileira, com alunos da Escola Municipal Consul Schindler, no bairro de São Caetano. Criado pela professora Claudia Maria Torres Mattos, o projeto busca a valorização da história do povo negro e de sua contribuição para a construção do país.

A autoestima dos alunos é trabalhada por meio de desfiles de turbantes, sarau literário, biografia de personalidades negras, dentre outros eventos. “Esse projeto foi pensado com o objetivo de colocar em prática tudo o que já era trabalhado em sala de aula de forma teórica. Um dos principais objetivos é acabar com os estereótipos que, durante muito tempo nos perseguiram, machucaram e ainda machucam, atingindo também as crianças, por terem o cabelo crespo, ou por sua cor ser ‘incompatível’, para representar príncipes e princesas, reis e rainhas das histórias e contos infantis”, explica Cláudia Mattos.

Criado para ser executado durante todo o ano letivo e culminado no mês da Consciência Negra, o projeto contempla todas as crianças da unidade escolar, inclusive pais e responsáveis.

Palco Literário – A ação contempla leitura de livros infantis que tratam da “estética afro” e da cultura afrobrasileira como um todo. Um dos livros trabalhados na programação é “O cabelo de Sara”, da coleção “Sara e sua Turma”, da escritora Gisele Gama, que conta a história de uma menina negra que sofreu bullying na escola. Gisele, inclusive, está finalizando o livro “Rainha Azeviche”, baseado no projeto, e que será lançado no dia 19 de novembro, iniciando as ações dos festejos da Consciência Negra em Salvador.

“Escrevi uma série de livros que falam sobre o mundo em que Sara vive. E ela representa as crianças de um Brasil em que queremos viver, em que as crianças têm orgulho de ser quem são. Cláudia faz isso com suas crianças. Nada mais natural do que contar essa história, dentre as tantas boas histórias que já pude contar, com tanta gente que faz a diferença para um mundo melhor. Contar a história do esforço dela por uma educação em que há um empoderamento de crianças negras ao cotidiano escolar foi uma escolha natural para a coleção. É uma história que precisa ser contada”, reconhece Gisele.

Turbantes – Belos, imponentes e coloridos, os desfiles de turbantes contemplam outra forma encontrada de valorizar a cultura negra no projeto “Rei e Rainha Azeviche”, que conta ainda com os seminários da seção “Datas Que Falam”, que são ministrados por convidados e colaboradores do projeto. Este último atua no campo das datas importantes na história do povo negro e na construção do país, que não integram os livros didáticos convencionais.

As atividades não param por aí, concentrando-se ainda em eventos que envolvem pesquisas, debates e confecção de cartazes sobre o papel e a importância da mulher negra na sociedade de hoje e a sua participação na construção da história soteropolitana e brasileira, além do estudo – por meio de vídeo-aulas – sobre a dança afro, seu significado e a transformação que sofreu ao ser introduzida no Brasil.

Os eventos culminam, em novembro, no “Concurso Rei e Rainha Azeviche”, elegendo a rainha e o rei do ano, por meio da dança e de todo o conhecimento adquirido ao longo do processo. A eleição não ocorre como uma disputa e todos os outros alunos são premiados e eleitos príncipes e princesas da escola.

“Em 2017, tivemos o prazer de receber a autora Gisele Gama em nossa escola. Foi uma tarde divertida e muito produtiva onde foram apresentados os personagens da coleção Sara e sua Turma e uma contação de histórias. Na oportunidade, ela conheceu o projeto ‘Rei e Rainha Azeviche’. Pouco tempo depois recebi a notícia de que o ‘Azeviche’ viraria livro infantil da coleção ‘Sara e sua Turma’”, comemora Cláudia Mattos.

Histórico – A ideia do projeto surgiu em 2009, quando Cláudia foi eleita rainha do Bloco Afro Muzenza. “Foi quando decidi levar a dança afro e toda história do povo negro para a sala de aula. No inicio houve muito preconceito por parte dos pais e até mesmo das crianças, já que, para muitos, falar sobre a cultura afrobrasileira se resume apenas em religião. É preciso explicar que projeto não visa ensinar religião, tendo por objetivo maior a disseminação do conhecimento e o respeito à cultura”, reitera a professora.

Texto – Secom/PMS